quarta-feira, 30 de junho de 2010

A pós-modernidade e a queima de livros.

O período denonimado "pós-modernidade" é objeto de amplos interesses de estudo por parte de historiadores, sociólogos, geográfos e cientistas políticos. A necessidade de se estudar tal fenônemo se dá, sobretudo, pelo fato de estarmos, nós, hoje, inseridos em tal período. Mas a divergência maior em relação aos estudos sobre o período são quanto ao seu início.
É do senso-comum acadêmico simplificar o início do período como sendo após o término da segunda guerra mundial, ou seja, em 1945. Mas, ao meu ver, tal simplificação é perigosa, uma vez que algumas manifestações pós-modernas, em certos âmbitos da arte, cultura ou política, só se tornam mais perceptíveis após a década de 80. Desta forma, podemos tomar o fim desta década, marcado pela queda do Muro de Berlim e o fim do socialismo real, como momento de auge e vigor do pós-modernismo. Momento este que vem se alastrando até os dias de hoje.
Mas, enfim, a que se refere este fenômeno, tão condenado, mas pouco definido? O pós-modernismo pode ser entendido, da forma mais clara possível, como momento de degeneração dos valores culturais, artísticos e políticos dentro do sistema capitalista, que alcançou seu momento de vigor máximo devido à extinção de sistemas que se mostrassem antagonistas a ele. Mas, apesar do vigor do capitalismo por ser, agora, a única opção de sistema vigente, ele não apresenta mais a força de seus tempos áureos do início do século XX. Desta forma, encontramos o sistema capitalista dando voltas em torno de si mesmo, sem razão ou sentido algum. O sistema só existe por si próprio, sem buscar alcançar valores ou ideais algum.
E tal perda de sentido se reflete na nossa sociedade. E a arte é a mais abalada das vítimas da pós-modernidade. Numa sociedade que busca apenas sondar as necessidades e os estímulos do sistema capitalista, temos uma arte, se é que ela pode ser assim elogiada, que visa apenas atender às ânsias de um mercado, cada vez mais consumidor e menos intelectual, menos engajado.
Se há pouco mais de um século atrás poetas parnasianos buscavam retratar em seus poemas sua subjetividade, porém, empregando o máximo de beleza estética e esmero artístico, hoje, encontramos "artistas" que nada mais almejam que a simples venda de exemplares. Sejam estes quadros, discos, livros ou ingressos de cinema.
E por que a sociedade se submeteu a isto? Por que a sociedade aceitou engolir, sem sequer pestenejar, todo o lixo comercial que a foi atirado? É aí que entra a decisiva participação do Deus Mercado, e de sua forte aliada, a mídia. Hoje em dia, o que o Mercado dita como valioso, é o que a população, pouco intelectualizada e despreocupada com valores artísticos, irá almejar comprar. Nao importa se o Mercado está ditando absurdos estéticos como calças laranja e cabelos escovados. E a mídia, ao estampar, da forma que bem entende, artistas em capas de revistas, e dar atenção apenas às tendências do momento, condiciona uma massa acéfala a ouvir, ler, assistir, o que ela bem entende.
É aí que entra a metáfora de François Truffaut em seu filme "Fahrenheit 451", de 1966. Na sociedade futurista do filme de Truffaut, bombeiros são profissionais destinados a queimar qualquer livro encontrado. Os donos de tais livros estão sujeitos à tortura interrogatória e à prisão. Pode soar sem sentido, mas não é esta uma tentativa de um Estado ditatorial controlar a intelectualidade da população? Afastando a população de Marx, Kant, Hegel ou Nietzsche, evita-se revoluções por parte de uma elite política intelectual e engajada, como se observou diversas vezes ao longo da História.
A população propensa ao emburrecimento, está igualmente propensa ao controle por parte de uma mídia tendencioso e de um estado corrupto. Não é o que acontece hoje? À época do filme, o mundo vivia um período de ditaduras reais. Regimes militares em diversos países da América Latina, inclusive o Brasil, totalistarismo soviético no Leste Europeu, e governos tirânicos na África em processo de descolonização. Mas, hoje, a maioria dos países já superou tais governos, mas vive num período de ditadura muito mais intensa, porém, simbólica.
É a ditadura da mídia, da moda e da arte de qualidade execrável. Conforme exempliicado acima, a população não tem o menor estímulo para buscar alternativas de qualidade artistica excepcional ou conteúdo intelectual válido. Ficamos, assim, condicionados ao que o capitalismo, ao que a sociedade de massas, ao que o american way of life, quer de nós. E como essa sociedade alienada e condicionada á supressão mental irá causar o colapso do sistema capitalista? Parece, finalmente, que Karl Marx estava realmente errado. A luta de classes se esvaiu, a sociedade não mais se mostrará inssurgente, enquanto completamente dominada por forças superiores, porém, invisíveis aos próprios olhos desta sociedade. Na pós-modernidade, a massa é, acima de tudo, cega.

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