sábado, 17 de julho de 2010

Tem dias na vida...

em que você simplesmente não sabe o que lhe acontece. Você simplesmente acorda e faz. Quem dera a vida fosse menos complicada. Não digo que assim, complicada, ela tem mais graça... quem disse que a vida tem graça? Quem disse que é pra ter? No mais, estamos todos imersos no nosso próprio buraco, afundados em nossa própria desgraça. Em conflito com nossos fantasmas internos, com nossos eus perturbados e perturbadores. E um dia, apenas um dia, é o suficiente pra te trazer tudo isto à tona. Você está lá, acostumado com seu drama... você o disfarça com uma família, uma casa, um carro, um trabalho e alguns copos de bebida. "Choose life, choose a job..." não é de todo errado. Escolha o que você tiver de escolher para se distanciar de si mesmo e da tristeza que o mundo real lhe causaria. Feche os olhos, "living is easy with eyes closed". Mas às vezes você lembra... e ao longo da vida, da mesma forma que acumula amores, alegrias, alienações para todo o drama do sistema vigente, você acumula perturbações interiores. Quem dera pudéssemos escolher a parte de nossa memória que as drogas viriam a apagar depois de algum tempo de uso. Quem dera pudéssemos simplesmente entrar num consultorio médico e escolher "alguém" para nos ser arrancado da memória. Pois é, viver num mundo que os seus filmes criaram não é apenas mais uma tentativa de fuga desse caos? Bom, pode me julgar e me chamar do que quiser, mas, amigo, pode ter certeza de que estamos mergulhados no mesmo caos. Você, apenas é cego quanto a ele. E, sabe, sorte sua.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

A pós-modernidade e a queima de livros.

O período denonimado "pós-modernidade" é objeto de amplos interesses de estudo por parte de historiadores, sociólogos, geográfos e cientistas políticos. A necessidade de se estudar tal fenônemo se dá, sobretudo, pelo fato de estarmos, nós, hoje, inseridos em tal período. Mas a divergência maior em relação aos estudos sobre o período são quanto ao seu início.
É do senso-comum acadêmico simplificar o início do período como sendo após o término da segunda guerra mundial, ou seja, em 1945. Mas, ao meu ver, tal simplificação é perigosa, uma vez que algumas manifestações pós-modernas, em certos âmbitos da arte, cultura ou política, só se tornam mais perceptíveis após a década de 80. Desta forma, podemos tomar o fim desta década, marcado pela queda do Muro de Berlim e o fim do socialismo real, como momento de auge e vigor do pós-modernismo. Momento este que vem se alastrando até os dias de hoje.
Mas, enfim, a que se refere este fenômeno, tão condenado, mas pouco definido? O pós-modernismo pode ser entendido, da forma mais clara possível, como momento de degeneração dos valores culturais, artísticos e políticos dentro do sistema capitalista, que alcançou seu momento de vigor máximo devido à extinção de sistemas que se mostrassem antagonistas a ele. Mas, apesar do vigor do capitalismo por ser, agora, a única opção de sistema vigente, ele não apresenta mais a força de seus tempos áureos do início do século XX. Desta forma, encontramos o sistema capitalista dando voltas em torno de si mesmo, sem razão ou sentido algum. O sistema só existe por si próprio, sem buscar alcançar valores ou ideais algum.
E tal perda de sentido se reflete na nossa sociedade. E a arte é a mais abalada das vítimas da pós-modernidade. Numa sociedade que busca apenas sondar as necessidades e os estímulos do sistema capitalista, temos uma arte, se é que ela pode ser assim elogiada, que visa apenas atender às ânsias de um mercado, cada vez mais consumidor e menos intelectual, menos engajado.
Se há pouco mais de um século atrás poetas parnasianos buscavam retratar em seus poemas sua subjetividade, porém, empregando o máximo de beleza estética e esmero artístico, hoje, encontramos "artistas" que nada mais almejam que a simples venda de exemplares. Sejam estes quadros, discos, livros ou ingressos de cinema.
E por que a sociedade se submeteu a isto? Por que a sociedade aceitou engolir, sem sequer pestenejar, todo o lixo comercial que a foi atirado? É aí que entra a decisiva participação do Deus Mercado, e de sua forte aliada, a mídia. Hoje em dia, o que o Mercado dita como valioso, é o que a população, pouco intelectualizada e despreocupada com valores artísticos, irá almejar comprar. Nao importa se o Mercado está ditando absurdos estéticos como calças laranja e cabelos escovados. E a mídia, ao estampar, da forma que bem entende, artistas em capas de revistas, e dar atenção apenas às tendências do momento, condiciona uma massa acéfala a ouvir, ler, assistir, o que ela bem entende.
É aí que entra a metáfora de François Truffaut em seu filme "Fahrenheit 451", de 1966. Na sociedade futurista do filme de Truffaut, bombeiros são profissionais destinados a queimar qualquer livro encontrado. Os donos de tais livros estão sujeitos à tortura interrogatória e à prisão. Pode soar sem sentido, mas não é esta uma tentativa de um Estado ditatorial controlar a intelectualidade da população? Afastando a população de Marx, Kant, Hegel ou Nietzsche, evita-se revoluções por parte de uma elite política intelectual e engajada, como se observou diversas vezes ao longo da História.
A população propensa ao emburrecimento, está igualmente propensa ao controle por parte de uma mídia tendencioso e de um estado corrupto. Não é o que acontece hoje? À época do filme, o mundo vivia um período de ditaduras reais. Regimes militares em diversos países da América Latina, inclusive o Brasil, totalistarismo soviético no Leste Europeu, e governos tirânicos na África em processo de descolonização. Mas, hoje, a maioria dos países já superou tais governos, mas vive num período de ditadura muito mais intensa, porém, simbólica.
É a ditadura da mídia, da moda e da arte de qualidade execrável. Conforme exempliicado acima, a população não tem o menor estímulo para buscar alternativas de qualidade artistica excepcional ou conteúdo intelectual válido. Ficamos, assim, condicionados ao que o capitalismo, ao que a sociedade de massas, ao que o american way of life, quer de nós. E como essa sociedade alienada e condicionada á supressão mental irá causar o colapso do sistema capitalista? Parece, finalmente, que Karl Marx estava realmente errado. A luta de classes se esvaiu, a sociedade não mais se mostrará inssurgente, enquanto completamente dominada por forças superiores, porém, invisíveis aos próprios olhos desta sociedade. Na pós-modernidade, a massa é, acima de tudo, cega.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Malícia.


Você não vai me fazer mal,
não mais!
Eu não vou mudar,
você não mudou!

Desse abismo que você me colocou
eu já saí demais.
Você não foi a primeira
mas será a última.

Última chance da sua vida
de querer
quem te quer bem,
você perdeu!

A decisão foi sua,
o ultimato será meu
Você soube ser,
mas eu sou pior.

Não te desejo mal
mas te farei mal.
Você quem sabe
e já soube.

terça-feira, 4 de maio de 2010

As melhores coisas do mundo.


Que "As melhores coisas do mundo" é um bom filme, qualquer um pode atestar. Mas, vê-lo aos dezessete anos de idade, torna-o algo muito maior e além do mérito cinematográfico. É inevitável a identificação com as situações da vida dos jovens entre quinze e dezessete anos, personagens do filme. A realidade com que tais situações são retratadas é o maior acerto do filme, sem dúvidas. Nada de adolescentes brasileiros imbecis e extremamente inseridos na cultura pop atual, nem norte-americanos exagerados que ora retratam jovens como drogados promíscuos precoces ("Aos Treze"), ora como acéfalos em busca de sexo a qualquer custo ("American Pie").
Óbvio que há uma certa dramatização de certos eventos da juventude, bem como um excesso em algumas conclusões do roteiro, mas, no mais, o filme pouco foge daquilo que a maioria dos adolescentes de classe média deste país vivem ou já viverem. Não adianta condenar o filme por cenas que mostrem um garoto tentando adquirir o hábito nefasto de fumar a fim de conquistar uma garota. Nem por retratar a escassez de sentimento e a efemeridade dos relacionamentos amorosos, famigerados "pegas". Éticas ou não, tais atitudes são a realidade da vida de muitos jovens. É, como o protagonista Mano tentou alertar à Mãe, distante da ética mas próximo à vida real.
A mãe, no caso, e os outros adultos do filme, apesar de mal aproveitados, representam outra qualidade do filme. Os professores idealistas, que cativam e conquistam os jovens com um pensamento muito mais condizente com a mentalidade destes do que com a burocracia da vida "adulta". Quem nunca se apaixonou pela aula daquele professor que te fazia, mesmo de forma utopica, quebrar paradigmas que, mais tarde, você iria admitir serem inquebráveis? Nesse aspecto, os coadjuvantes já conhecidos do público se saem muito bem: Denise Fraga (a mãe), Caio Blat (o determinado professor de física) e Paulo Vilhena (o romântico professor de violão). As situações da vida escolar também são muito próximas do cotidiano vivido por muitos alunos de escolas particulares pelo Brasil afora. Cenas pequenas mas significativas, como a da disputa pela viagem de formatura, a fim de tranferi-la da "pobreza" de Porto Seguro para o "glamour" de Cancun, despertam risos de quem já ouviu recentemente coisas semelhantes.
Mas, apesar do nome sugerir, o filme não retrata só as maravilhas da vida adolescente. E isso conquista e gera, agora uma triste e nostálgica, identificação do público. Ao longo da adolescência é, infelizmente, inevitável, abandonar suspostas melhores amizades, uma vez estas tendo suas verdadeiras intenções reveladas, e o filme retrata bem isto. A depressão e frustação juvenis também estão presentes. Seja de forma mais leve e bem humorada, como no caso de Mano, frustrado com a ainda existente virgindade ou com a primeira desilução amorosa, seja na forma pesada e quase caótica do irmão mais velho, Pedro, absurdamente abalado com o término do namoro. Mais uma vez, pode ser errado, mas não é incomun, muito menos inexistente, vermos jovens se afundarem em mágoas e recorrerem a remédios, ou drogas ilícitas, como válvula de escape.
Em nenhum momento o filme condena, apenas retrata, certos hábitos. Está tudo lá: a maconha que, deixando as hipocrisias de lado, sabemos ser consumida por muitos nessa faixa etária; o álcool e o tabaco inciados ainda na menoridade; o sexo casual e despreocupado dos jovens; as atitudes pervertidas e ditas imorais de muitas garotas; o amor inconsequente da aluna sonhadora pelo professor... O filme se mostra um fiel e coerente retrato desta atual geração. Da qual, quem faz parte, com certeza sairá do cinema com uma enorme sensação de familiriadade e até de arrependimento. Arrependimento pois o filme deixa (ou pelo menos me passou a impressão de deixar) claro que atitudes como homofobia e bullying devem ser abandonadas. Mas quem não se recorda de, no auge da imaturidade, ter irracionalmente recorrido a tais horrendos artifícios? É apenas neste momento que a obra faz um, diga-se de passagem, ótimo papel concientizador. É inevitável não mudar a opinião à respeito do pai gay e de seu parceiro ao longo do filme, assim como, felizmente, os próprios filhos protagonistas o fizeram.
Agora, deixando um pouco de lado as emoções surgidas após a exibição, destaque para o filme em si: atores competentes, tanto os já citados aultos quanto os grandes achados jovens, principalmente Francisco Miguez, intérprete de Mano. Até mesmo o sempre insuportável Fiuk deixou de lado a chatice do seu personagem de "Malhação" por um personagem mais sério e denso. Trilha sonora cativante, sobretudo a eterna e belíssima canção "Something" dos Beatles, a qual atrevo-me, como beatlemaníaco além de cinéfilo, a julgar a mais bela música do quarteto. Enfim, apesar de admitir ter tido meu senso crítico extremamente afetado pela identificação afetiva com a película, afirmo ser este um ótimo filme. Até porque, merece muito crédito a obra que cative até aos mais céticos. Emocionar não é uma das grandes funções das artes? E quando isto é feito de forma competente então, não há mais nada a fazer senão tirar o chapéu à obra em questão.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Saudades...

If you, if you could return
Don't let it burn, don't let it fade
I'm sure I'm not being rude
But it's just your attitude
It's tearing me apart
It's ruining everyday
And I swore, I swore I would be true
And honey so did you
So why were you holding her hand
Is that the way we stand
Were you lying all the time
Was it just a game to you

But I'm in so deep
You know I'm such a fool for you
You got me wrapped around your finger
Do you have to let it linger
Do you have to, do you have to, do you have to let it linger

Oh, I thought the world of you
I thought nothing could go wrong
But I was wrong, I was wrong
If you, if you could get by
Trying not to lie
Things wouldn't be so confused
And I wouldn't feel so used
But you always really knew
I just wanna be with you

And I'm in so deep
You know I'm such a fool for you
You got me wrapped around your finger
Do you have to let it linger
Do you have to. do you have to
do you have to let it linger

And I'm in so deep
You know I'm such a fool for you
You got me wrapped around your finger
Do you have to let it linger
Do you have to, do you have to
do you have to let it linger

You know I'm such a fool for you
You got me wrapped around your finger
Do you have to let it linger
Do you have to, do you have to
do you have to let it linger

Não faz, mas já fez muito, sentido. Um pouco de nostalgia é sempre bom. Alguém, em algum lugar entenderia.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Engajamento político? Passa amanhã.

Esse título, vindo de mim, assusta. Inclusive, e principalmente, a mim. Mas, c'est la vie. Quando você acha que seu apreço pelas causas políticas e sociais irá crescer e atingir seu ápice, você se cansa delas e abandona-as, mesmo antes de tê-las conhecido de fato. E os culpados são os próprios (ditos) engajados. Engajamento da boca para fora, com as causas erradas e, sobretudo, demonstrado com as atitudes erradas.
Por exemplo, apoiar greve dos trabalhos da universidade pública? Beleza, acho realmente uma merda que todos aqueles trabalhadores ganhem um salário ínfimo. Mas tá, dentro da empresa privada, todo mundo ganha o quanto quer, ou até mesmo o quanto merece? Será que a minha mãe ganha o quanto ela quer? E a sua? Mas você vê alguém fazendo greve? Não. Existe o medo e a possibilidade concretíssima de se perder o emprego. Mas aqueles que se escondem sob a sombra dos (baixos) salários pagos pelo estado, aproveitam-se da condição de eternos funcionários públicos, para anualmente se prontificarem à greve. Aproveitam também o universo midiático que é uma faculdade pública, ainda mais uma USP, para ganharam "voz" perante a população.
Tudo bem, não generalizemos. Meu parecer está sendo extremamente reacionário e reconheço que a greve, em alguns momentos, possa vir a ser séria e que traga sim melhorias às condições de tais trabalhadores. Mas o problema é ter que ouvir gente defendendo-a sem o menor conhecimento de causa, apenas para se firmar como "revolucionário". É muito fácil se dizer engajado e botar a estrelinha do PT no peito (coisa que você faz apenas para nadar contra a corrente na sua porca família PSDBista) sentado no seu sofá vendo Malhação e comendo Trakinas. O seu engajamento se extende até o ponto de você parar para reconhecer e afimar que "aqueles trabalhadores ganham muito pouco e isso é injusto."
Poxa, parabéns. Tenho minhas dúvidas se você foi o primeiro a pensar nisso. Talvez tenha sido, senhor gênio da revolução. É muito fácil ter papai que ganha quarenta mil reais por mês, viver com todo o conforto do mundo, e, ao afirmar o óbvio ululante, se tornar o mais engajado de todos os militantes políticos. Seria mais fácil admitir que sonha com a greve para ter uma semana a mais de descanso e retiro alucinógeno.
Vamos ter mais cuidado com aquilo tudo com o que nos engajamos. É deveras entediante ouvir, diariamente, na sua sala de aula (aula a qual foi interrompida, diga-se de passagem) de alguém que demonstra claramente não saber o mínimo sobre o que fala, um convite à "manifestação X em prol dos professores Y". O engajamento se faz com menos discursos inflamados e mais ações sutis e pouco perceptíveis aos olhos da massa. Se você acorda cedo todo dia para ajudar numa comunidade carente, beleza, nada do que eu estiver dizendo lhe é válido. Mas se o seu "auxílio" à população se extende à empunhar cartazes durante uma manifestação para, então, colocar fotos de tal ato no Orkut... me desculpe, mas a vaidade e o reconhecimento dos seus "amigos" não está ajudando em nada o mundo.
Que pareça reacionário e elitista tudo isso, foda-se. Eu sou eu e minhas convicções, e delas cuido eu. Sei em quem voto, e porquê. Sei o que acho, e porquê. E defenderei tudo isso da forma mais convicta possível. Mas não me venha vomitar teorias socialistas já mortas, socialismo no século XXI é necrofilia. Não me venha vomitar engajamento enquanto dirige o carrinho da mamãe. Não é toda e qualquer causa que mereça nosso engajamento. Bem que o "poeta" poderia ter dito: se engajar em tudo é desespero. Vamos com calma, que é assim que o braco anda. Os últimos mil revolucionários da História conseguiram bem mais gritando muito menos. Você já deveria ter aprendido tudo isto.