quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Quase Famosos.

Quase Famosos, de Cameron Crowe, foi um filme que assisti despretenciosamente e acabei me surpreendendo. Criei um grande apreço pelo filme e hoje o considero um dos meus preferidos, apesar de não gostar da obra de Crowe, de quem também conferi "Vanilla Sky" e "Elizabethtown", os quais não aprecio. Enfim, o que mais cativa e marca no filme é o seu clima "cool". A palavra, por sinal, é empregada diversas vezes pelos personagens do filme para designar seja algum outro personagem, alguma situação, uma banda ou o rock n' roll em si. Ah, o rock n' roll... este estilo musical aclamado por décadas que hoje sobrevive como uma chama no coração de jovens que o enxergam como uma eterna forma de rebeldia, música de qualidade e uma alternativa aos sertanejos massificadores atuais. O rock n' roll é o tema do filme de Crowe e é o que o torna tão especial. O diretor, ao mesmo tempo em que exalta as qualidades do estilo musical, desmistifica completamente seus ídolos e lendas.
Crowe, quando jovem, foi jornalista de rock, e acompanhou o Led Zeppelin, o The Who e o Allman Bothers em turnês a fim de noticiá-las na famosa revista Rolling Stone. E, baseando-se nesta sua trajetória de vida, criou a história do ingênuo William Miller, que, no filme, possui a mesma missão, mas acompanhando a banda fictícia Stillwater, claramente inspirada nas três bandas acompanhadas por Crowe. E é utilizando essa banda como metáfora central de seu roteiro, que o diretor nos passa todo o ideal de fúria e alegria do Rock, seja nas cenas de apresentação do hit fictício "Fever Dog", ou através da excelente trilha sonora, composta por clássicos de David Bowie, Elton John, The Who e Led Zeppelin, entre outros. Mas, também através da banda, ele nos mostra o lado "humano" de nossos ídolos musicais. Aquela já conhecida arrogância, petulância e necessidade de estrelato dos rockstars que, relutantemente, fingimos irrelevar.
E há ainda Penny Lane! Sim, essa grande personagem do cinema. Bonita, misteriosa e sensual. Penny é a típica groupie, mas que não vive apenas de parasitar e amar integrantes de bandas. Ela possui energia suficiente para despertar o espírito do rock n' roll em qualquer um. Energia suficiente para tornar magistrais as apresentações da banda que acompanha. Energia suficiente para seduzir tanto o rockstar Russel, guitarrista do Stillwater, quanto o bobo William. Esse pseudo-triângulo amoroso dá certa graça ao filme, e confere a William um ar mais ingênuo e pueril ainda, uma vez que, apaixonado platonicamente por uma musa praticamente inalcançável, se vê cada vez mais preso à turnê da banda, e chega a abandonar a vida que leva com a mãe para perpetuar a convivência. Mas não é só a musa que o fixa ao grupo. Que garoto de quinze anos não abandonaria a mãe católica e conservadora de William para passar a vida em um ônibus, pelas estradas dos EUA, com uma banda de rock, indo a shows, e conhecendo celebridades? É essa experiência da vida de William, que irá conhecer os prazeres do sexo, por exemplo, que torna o filme tão "cool". Um grande road movie, com um quê de coming-age movie e muita música boa para dar a liga.
Toda essa energia positiva ainda é acompanhada de cenas memoráveis. Alguns diálogos entre William e Penny refletem muito bem a sensualidade e o mistério da garota, que tem, em suas mãos, o amor e a amizade do pobre garoto. Há também as loucuras típicas de um filme de rock. Sexo, drogas e rock n' roll! Numa das melhores cenas do filme, Russel, chapado de ácido, se atira de um atalhado em uma piscina gritando "Eu sou um deus dourado" e jurando que suas últimas palavras seriam "Estou chapado". Outra cena fantástica é quando os personagens, em um avião que parecia prestes a explodir nos ares, iniciam confissões acerca de sua sexualidade e do relacionamento com os companheiros de banda. Hilária! Tais cenas, segundo o diretor, são inspiradas em acontecimento reais da vida, por exemplo, de Robert Plant e do The Who. Dessa forma, Cameron Crowe eternizou o melhor estilo de música da história num dos melhores filmes da história. E é bastante imparcial, já que não fica apenas fazendo apologias à ideologia setentista e lisérgica, como muitos filmes por aí pecam ao fazer. Há o drama humano da banda que se desintende, a disputa de ego entre integrates que notadamente já arruinou várias carreiras por aí e a figura do jornalista de rock, mítico e temido. Enfim, todos os ingredientes de um filme delicioso... boa música, cenas excelentes, grandes personagens e um clima bem "cool". Como, em certo momento do filme, é dito: "a grande indústria do cool!"

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Top 10 cenas memoráveis do cinema.

Seguem abaixo três listas feitas por três diferentes pessoas (uma delas, no caso, sou eu) acerca de cenas marcantes do cinema. Cada um usou seu critério. Podem ser cenas belas, tensas, emocionantes, chocantes, assustadores, mas que tenham marcado o autor. Cada lista foi desenvolvida sem conhecimento prévio das anteriores, logo cenas coincidentes é mero compartilhar de gostos. Cada autor usou sua própria experiência e gosto cinematográfico em sua lista, tornando-a repleta de cenas com significado pessoal, e não apenas cenas já tidas como clássicas.

Lista 1
Menção honrosa - E sua mãe também - Gael Garcia Bernál conta a Diego Luna após várias doses de tequila: "y tu mama también"
10. Cidadão Kane - Cena final com close em "Rosebud"
9. Clube da luta - Cena final: prédios explodindo ao som de Pixies
8. Pulp fiction - "Everybody be cool, this is a robbery", seguido da música de Dick Dale
7. Bastardos Inglórios - Incêndio no cinema nazista
6. Quase Famosos - "What kind of beer?"/Cena do avião
5. Laranja Mecânica - Estupro "Singing in the rain"/Alex sendo afogado
4. Réquiem para um sonho - Sequência final
3. Psicose - Descoberto o esqueleto da mãe de Norman Bates
2. Irreversível - Assassinato com extintor de incêndio
1. Old Boy - Língua cortada

Lista 2
Menção honrosa: O mágico de Oz - Dorothy chega a Oz em meios às cores da "Technicolor"
10. Os bons companheiros - Joe Pesci: "Funny how? I mean, funny like a clown? I amuse you?"
9. Um dia de cão - Al Pacino: "Attica! Attica!"
8. Apocalypse Now - Robert Duvall: "I love the smell of napalm in the morning"
7. Franco-Atirador - Cena da roleta russa
6. Poderoso chefão - Cabeça do cavalo encontrada na cama
5. Taxi Driver - Robert Deniro: "are you looking to me?"
4. Pulp Fiction - John Travolta aplica adrenalina em Uma Thurman após overdose
3. Dançando na chuva/Laranja mecânica - "Singing in the rain"
2. 2001 - Osso atirado por primata "tornando-se" espaçonave
1. E o vento levou - Clark Gable: "Frankly, my dear, I don't give a damn."

Lista 3
10. Poderoso chefão - Tiros no pedágio
9. O Anticristo - Se imagine no éden
8. O discreto charme da burguesia - A burguesia é um teatro
7. Cães de aluguel - "Mate o traidor"
6. Noites de Cabiria - O casal feliz ao entardecer
5. O Sacrifício - Tocado por um anjo/Casa incendiada
4. O Iluminado - Jack Nicholson: "Here's Johnny"
3. Curioso caso de Benjamin Button - O lugar errado na hora errada
2. Oldboy - "Eu serei seu cachorrinho"
1. O pagador de promessas - Carregado para a igreja

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Personalidades da História ao longo dos séculos.

Séculos XVI - Galileu Galilei
Galileu foi um dos mais significativos representantes do período conhecido como Renascimento Cultural, que marca a dolorosa transição feudo-capitalista da história ocidental. A Idade-Média, fechada em sua fé católica, economia autosuficiente e relações sociopolíticos rústicas necessitava de uma mudança brusca para ser esquecida e superada por outro modelo de produção. Tal transição ficou bastante estigmatizada na História devido aos inúmeros acontecimentos: renascimento comercial, urbano, cultural e reformas protestantes. Porém, é com o renascimento cultural que os dogmas da Igreja são contestados pela primeira vez, representando uma mudança no imaginário da população. Galileu é o que melhor representa tal postura já que foi morto pela inquisição católica em nome de suas crenças. Crenças não, quem tinha crenças eram os padres! Galileu tinha certezas, baseadas em muito cálculo e estudo, o que moldou os princípios da física, antes bastante rudimentar baseada apenas nos estudos de Aristóteles. Sem o renascimento científico propiciado por suas ideias, dificilmente teríamos as heranças do período transformadas em expansão marítma, mercantilismo e estruturação do capitalismo comercial.

Século XVII - Guilherme De Orange
Guilherme De Orange conduziu a chamada Revolução Gloriosa na Inglaterra. Antes do que em qualquer outro país, a Inglaterra substituiu o clássico regime absolutista por um regime parlamentarista, tendo, sim, um rei, mas de poderes limitados e apenas representativos. Tal fato é pouco difundido no estudo habitual da História, mas é tão importante quanto a Revolução Francesa do próxima século, pois é a primeira manifestação burguesa em busca de poder máximo. É tal advento que conduz a Inglaterra para o imperialismo e o status de suporpotência característico dessa nação até o século XX. Tal cenário, com o mundo submetido às influências da Inglaterra marcam toda a geopolítica dos séculos posteriores, sendo até mesmo um pouco presente hoje, onde a Inglaterra ainda é uma potência. A Revolução Gloriosa precede até mesmo as ideias iluministas, que tanto marcariam o próximo século, chamado século das luzes, por isso é um evento histórico extremamente peculiar em sua importância.

Século XVIII - James Watt
"A criatura é muito mais famosa que o criador". A máquina à vapor, invenção de Watt, é simplesmente a responsável pelo advento da Revolução Industrial, que se deu por volta de 1750. E a revolução é simplesmente a responsável pela consolidação do capitalismo como modo de produção vigente, pelo aumento desenfreado da produtividade, pela mudança nas relações de trabalho, pela situação social de eterna luta entre proletariado e burguesia, enfim, um marco da História da humanidade. O mundo é costumeiramente dividido em "pré-industrial" e "pós-industrial", o que detona a importância da realização de Watt.

Século XIX - Karl Marx
Se no século XVIII foi consolidado o capitalismo e todas suas características, incluindo as cruéis desigualdades sociais, no século XIX surgiu seu maior antogonista. O filósofo, sociólogo e economista alemão, Karl Marx, é responsável pelas teses que criaram o modelo de produção socialista. Marx, antes de tudo, fez um detalhado estudo acerca da História, dividindo-a em modos de produção e enfatizando, em todos os períodos, a luta de classes como fator impulsionador das mudanças decorridas ao longo do processo histórico. Dessa forma, no livro "Manifesto do partido comunista", de 1848, Marx e seu parceiro Friedrich Engels, convidam o povo à revolução. A revolução socialista, destituindo a burguesia de seus plenos poderes, instaurando uma justa ditadura do proletariado que, mais tarde, evoluiria para a real sociedade sem classes. Tais ideias foram as responsáveis por boa parte das revoluções ocorridas após tal data. Fica difícil imaginar o mundo como conhecemos sem as teorias desse grande teórico. O historiador Eric Hobsbwan chamou o século XIX de a "era das revoluções", e o século XX de a "era dos extremos". Tanto revoluções, quanto extremos, todos oriundos da luta ideológica entre capitalismo e socialismo, inciada com as teorias de Marx.

Século XX - Josef Stálin
Talvez seja Stalin a mais admirável personalidade de toda a História. Não levemos em conta boas ações, ou más ações, apenas ações. Mesmo não tendo sido o principal condutor da Revolução Russa, foi Stalin quem se imortalizou na figura de grande líder do império vermelho soviético. E é esse império que marca todo o século XX, já que a Revolução Russa, de forma indireta define os rumos da I Guerra Mundial e, de forma bastante direta, decreta o fim da II Guerra Mundial na batalha de Stalingrado. À frente dessa potência, Stalin criou para si uma imagem de grande professor e mestre, pouco condizente com a realidade, de ditador e fascínora. Mas não é isso que grandes líderes fazem? O modelo soviético, que bastante se diferia do modelo proposto por Marx, mas, mesmo assim foi o que mais se aproximou de um Estado socialista, suportou quatro décadas de confronto político e ideológico para com os EUA. Todos aqueles nascidos e criados durante os anos da Guerra Fria jamais se esquecerão da divisão ideológica, seprando de forma acirrada o mundo em direita e esquerda, capitalista e socialista, americano e soviético. Talvez essa divisão ideológica faça falta nos dias de hoje, repleto de seres apolíticos e apáticos.

Século XXI - George W. Bush
Eis o herdeiro caótico do fim da Guerra Fria! O século XXI está ainda em sua primeira década, o que impossibilita sabermos quem foi a personalidade que o marcou como um todo, mas, desde seu início, George Bussh é o melhor representante. Ele é a figura característico do mundo pós-bipolaridade. O mundo hoje, com poder hegemônico dos EUA, que confronta outras potências (União Europeia, Japão, China) apenas no âmbito econômico, não mais ideológico, é marcado pelo dissimulado imperialismo norte-americano. Que se deu, após os ano de 2001 (quando Bush assumiu pela primeira vez) na forma de guerras e tensões diplomáticas. Tensões estas nas quais os EUA afirma ter razão apenas devido à sua influência como potência mundial. Obviamente que esta atitude do país sempre esteve presente ao longo da História, mas Bush tornou o kitsch e exagerado extremo dessa situação. Constantemente ridicularizado pelas mídias de outros países, o presidente representou o máximo do liberalismo econômico contrastando com o conservadorismo político e o militarismo bélico. É a imagem do mundo globalizado, onde o capital é responsável por toda e qualquer ação tomada por parte dos grandes Estados. E, diferente do que se pensava, seu sucessor, mesmo negro e muçulmano (vide post anterior), de nada se difere. Logo, Bush é mesmo o melhor representante do recém iniciado século XXI, já que nos deixou de herança um mundo onde situações de guerra e confrontos estão muito longes de acabar, como muitos ansiavam com o fim da Guerra Fria e da ameaça nuclear.

Indignação política - Parte dois.

A reputação do Instituto Nobel e de suas anuais premiações vem sendo contestada já a certo tempo. Com premiados duvidosos, indicados ainda mais (o "grande" literato Paulo Coelho, por exemplo, já foi indicado ao Nobel da literatura) e uma clara influência mercadológica, assim como o Oscar, o instituto não é mais sinal de confibiliadade dentre as pessoas sensatas.
Mas, dessa vez, os limites foram todos ultrapassados. O prêmio Nobel da paz entregue a Barack Obama? Acredito que não tenha havido, nesse planeta, cidadão que não se espantou com a notícia. O próprio Obama afirma ter sido pego de surpresa. Bom, não é pra menos, né? Acredito que o erro incial consista em premiar alguém (com algo em torno de um milhão de euros) por atitudes em nome da paz. Quem, de forma real e verdadeira, luta por este ideal, pouco se manifesta nesses grandes meios midíaticos. E, muito menos, almeja alguma premiação.
Alfred Nobel, idealizador do instituto e do próprio prêmio decidiu, por local de entrega e decisão do Nobel da paz, a Noruega. Segundo ele, escolher um país fora das grandes decisões geopolíticas evitaria que o prêmio fosse concedido baseado em interesses diplomáticos. Bom, não adiantou! Será que os noruegueses do comitê que escolhem os premiados acham mesmo que Obama lute pela paz mundial? O mundo todo se auto-iludiu ao achar que, por ser negro, muçulmano, whatever, Obama representaria uma alternativa à Doutrina Bush. Mas, hoje, após praticamente um ano de mandato, a ilusão ainda permanece?
Eu, sinceramente, duvido muito. Guantânamo? Ainda funciona, repleta de prisioneiros políticos! Afeganistão? Continua dominado pro tropas americanas, com uma economia despencando e uma política administrativa extremamente corrupta, chefiada pelo Estado norte-americano. Iraque? Os EUA ainda se julgam donos do local, já que so livraram (através uma pena de morte bastante pacífica) do ditador local, Saddam Hussein.
Mas o choque e a indignação inicial já haviam se transformado em conformismo, afinal, o prêmio pouco representa para mim, que tenho total noção de sua pífia fidedignidade. Mas, ontem, percorrendo os sites de notícia da internet, me deparei com o discurso de Obama logo após receber a medalha que simboliza sua premiação. Obama afirmou, sim, afirmou, ser a guerra um meio de se manter a paz! Algo mais americano absurdo do que isso? Obama provou ser uma apenas um apêndice do governo Bush, assim como todos os cidadões americanos são. E, talvez, isso nem tenha causado incômodos ao país que governa, já que eles estão acostumados a elegerem políticos imperialistas e assassinos. O quão ridículo foram todos os discursos de felicitação quando Bush abandonou o governo... o quão ridículo foi esse prêmio! Não que ele agora tenha passado a significar algo para mim, mas a indignação é o primeiro passo... sempre digo que, quando o mundo todo tiver algo pelo que se indignar, a mudança estará iniciada... mas, enquanto isso, fuck off! Vou lá assistir algum filme hollywoodiano na tv.


sábado, 5 de dezembro de 2009

Irreversível.

Ainda no embalo do post sobre "O Anticristo", escreverei sobre "Irreversível", este que outrora também fora chamado de "filme mais polêmico da história". Qualquer um que já tenha ouvido falar sobre o filme, com certeza ouviu algo semelhante, principalmente referente à tão famosa cena de estupro. Para os menos preparados, a obra pode se basear apenas num filme confuso, atordoante, com cenas de nudez, sexo explícito e violência gratuita. Julga-se que o famoso e pervertido diretor Gaspar Noé buscava apenas chocar o público. Mas, aqueles com maior sensibilidade às grandes obras do cinema, reconhecem facilmente neste filme um quê de obra-prima.
A iniciar pela forma como foi ordenado o roteiro. O filme já choca e perturba ao se inciar nos créditos finais, passados na tela de trás para frente, de baixo para cima. E, após isso, nos deparamos com um excelente diálogo centrado numa cela de prisão e que nada revela ao expectador, seguindo para uma cena filmada com a câmera absurdamente tremida dentro de uma devassa boate gay. É aí que o público toma contato com a confusão mental a que Noé quer nos inserir. A cena causa enjoo e náuseas devido ao tremor da câmera, ao som noir e ao peso das cenas de sexo homessexual mostradas rápida porém reveladoramente. Apenas duas, ou três, cenas depois, algum expectador que houvesse inciado o filme sem conhecimento prévio da obra, percebe que as cenas se dão na tela em ordem contrária. O filme, provavemente, fora filmado ordenadamente, seguindo moldes tradicionais do cinema, mas as cenas foram arranjadas ao inverso. E é isso que torna a obra tão marcante.
Ao encerrar, o filme coloca na tela a máxima de "os tempos destroem tudo", cultuada por mim desde que o vi pela primeira vez (vide página do blog), pois reflete de forma bem intensa o modo como todos nós, seres humanos, estamos à mercê de nossa existência e do destino. O final do filme seria extremamente feliz se ele não fosse... o começo do filme! É essa a grande sacada de Noé... inicar um filme extremamente noir, com violência excessiva, um estupro absurdamente cruel (praticamente inassistível para mulheres) e uma câmera tremendo, e, finalizá-lo com cenas alegres, vivas e bonitas, que mostram a alegria de um casal. Não chega a pesar, no corpo e na alma, saber que, antes de todas aquelas trágicas desgraças exibidas de forma nue e crua na tela, Noé tinha criado, para seus personagens, um mundo de paz e prosperidade?
Desperta uma reflexão bastante filosófica, que nos coloca em evidência uma certeza que tantos relutam em acreditar: todo e qualquer momento de felicidade pode, simplesmente, no minuto seguinte, ser brutalmente destruído ou esquecido. E, parando para pensar, quantas amizades, amores, considerações, coisas, lugares, não largamos, esquecemos, abrimos mão ou, simplesmente, nos são tirados pela vida, ao longo da própria? Obviamente que o filme cria uma situação mais trágica, mas um filme sobre algo prosaico não causaria o mesmo choque nem nos atentaria tão rapidamente à reflexão.
Logo, Gaspar Noé obteve perfeito êxito em nos passar uma grande mensagem filosófica com um grande filme. São poucos os diretores que conseguem esse status de polêmico, chocante e revolucionário. Ainda mais frente a uma platéia como a do júri de Cannes, como foi o caso do filme. De forma cruel Noé nos provou que a vida também pode ser cruel, e que, apenas nos atentaremos a isso no momento em que formos nós os "premiados" com alguma calamidade. Por enquanto, todos nós preferimos nos acomodar nos momentos de alegria, fazendo incontáveis planos para um futuro, ignorando que o que ele pode nos reservar é simplesmente horrível, como as cenas do filme são. Porém, algum dia, todos nós concluiremos que sim, os tempos realmente destroem tudo, e, uma vez destruído, é absolutamente irreversível! Mais uma vez, c'est la vie.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O Anticristo.


O filme "O Anticristo", de Lars Von Trier, lançado neste ano de 2009, foi taxado pela mídia e pelos críticos como "filme mais revolucionário e polêmico da história". Não é a primeira vez que um filme recebe essa alcunha, mas no caso do filme do diretor dinamarquês, o significado vai muito mais além. Talve seja o reflexo de que o cinema, e o mundo em geral, não estejam preparados para filmes dessa amplitude. O cinema dificilmente se desvinculará daquela concepção de mídia artística que desperta emoções e sentimentos através de imagens, roteiros e áudio. Não que eu seja contra essa ideia (afinal, noventa por cento dos filmes aderem à ela), mas eu acho que o que Lars propôs nesse filme poderia muito bem ser seguido.
Lars Vontrier, assim como alguns outros cineastas experimentais criaram um filme que é mais uma arte do que um filme. É, como o próprio diretor comparou, um quadro, uma escultura, uma música. Você não busca entendimentos, apenas assiste, contempla e tem suas próprias reflexões. E, por falar em reflexões, o filme de Von Trier está repleto das mais diversas. Obviamente que a crítica caiu em cima. O filme foi vaiado em Cannes, e Von Trier hostilizado por vários jornalistas, ainda mais sendo ele o arrogante e propotente que é. Mas, ao mesmo tempo, o fime também despertou reações animadoras e levou até um Palma de Ouro de melhor atriz pra casa.
Assim, entramos no quesito existencial da obra: a atriz. Charlotte Gainsbourg interpreta uma mulher, sem nome ou características de personagem esférico. Ela é apenas uma mulher açoitada pela dor e pelo sofirmento da perda de um filho. O filho em questão, caiu de uma janela certa noite, enquanto os pais deliciavam-se numa cena de sexo tórrido e apaixonante. A cena referida pode ser considerada antológica. Filmada em preto em branco, câmera lenta e precisão de mestre, acompanhada por uma trilha sonora de música clássica ela nos desperta não apenas o êxtase do sexo (há até um close na penatração vaginal) mas como do amor.
Porém, após a morte da criança o filme e a visão do diretor mudam de rumo. Von Trier abandona essa câmera precisa que tanto o perturba, retornando para sua clássica câmera tremida e a atmosfera noir, que tanto nos perturba. E o sexo? O sexo agora é encarado como bestial e animalesco. Não há mais amor. Em meio ha um lugar denominado "Éden", o casal (o homem, também sem nome ou caracterizações, é interpretado por William Dafoe) o casal continua a manter relações sexuais, mas dessa vez, de forma feroz e incontida. O desejo à flor da pele parte apenas da mulher, que encontra num lugar de nome bastante curioso o clímax sexual a tanto reprimido por tudo e por todos.
O filme é cheio de simbologias e metáforas. Desde o nome bíblico da floresta, até cenas bastante específicas e chocantes. A mulher, em certo momento, corta fora, com uma rústica tesoura de marceneiro, o próprio clitoris. Essa é, para mim, a cena mór do filme. Como se fazem na China que busca controle de natalidade irracional, a mulher se priva do desejo sexual de forma absurda e esdrúxula. É tudo parte da grande metáfora composta quase poeticamente por Von Trier: as referências ao cristianismo, o clássico conceito de natureza pagã e satãnizada, a figura da mulher reprimida em contraste com a figura da mulher bruxa.
Charlotte Gainsbourg, a Eva de Von Trier, é uma historiada, cuja tese acadêmica se baseia no "Ginecocídio" ao longo dos séculos, ou seja, os fortes maus-tratos causados às mulheres ao longo da História. Porém, no Éden, ela assume uma face monstruosa e assassina, que fez com que muitos taxassem o filme de misógino. Seria mesmo, então, Von Trier um adepto das teorias cristãs de que a mulher é a culpada pelo pecado do mundo? Que essa filha das costelas é um ser inferior e assassino? Acho que no mais, o diretor se refere a todos os seres humanos em geral como bestializados. Não é por menos que uma raposa (sim, uma raposa!) se comunica abertamente com o marido.
Von Trier apenas separa a degradação da espécie (sim, esta famosa incentivadora de artes ao redor do mundo!) em funções sociais masculinas e femininas. Não foi assim que o mundo sempre fez? Mulheres para isso, homens para aquilo! Von Trier explora a mulher como a velha figura materna, porém frágil e sensível a qualquer frustração, enquanto o homem, este sim, rústico e severo, é o centro psicológico da relação. Não é por menos, então, que o personagem de Dafoe é um terapeuta. Ele desempenha o papel de psiquê do casal, sustentando toda a dor da mulher em suas costas.
Mas não, a história toma rumos surpreendentes! A mulher, em certo momento, tenta passar o peso de todo um mundo, que Von Trier, da forma mais feminista (logo, menos misógina possível), assume estar apenas sobre ela, para o homem. Mas o final intrigante do filme tem algo mais a nos dizer. Cabe a cada um vê-lo, revê-lo e analisá-lo sob uma perspectiva de conheicmento e indagação. Não buscando saídas e compreensões óbvias. Isso é o cinema de verdade, que tanto foi e continuará sendo crucificado. Não é a toa que Kubrick, apesar de cultuado, morreu na amargura existencial. Von Trier ganhou com esse filme minha admiração. Não fez uma obra prima do cinema, como faz, de forma bem menos complexa, Quentin Taratino. Fez uma obra prima das artes e filosofias em geral. Pena que o mundo não esteja preparado, nunca esteve, prà arte real. Cést la vie.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Indignação política.

http://noticias.uol.com.br/ultnot/multi/?hashId=entrevista-mostra-bem-como-e-o-presidente-lula-diz-serra-0402366ED4C95366&mediaId=359576

O vídeo acima, se somado à desrespeitosa reportagem exibida hoje no "Jornal Nacional" sintetiza o pensamento da oposição do presidente Lula. O dia amanheceu com uma manchete na Folha de São Paulo: "Aqui no Brasil Jesus Cristo teria que se aliar a Judas para fazer coalizão política", palavras proferidas pela presidente em entrevista. A metáfora, muito bem aplicada, denota apenas a sensatez do presidente ao reconhecer a situação política de seu país, aonde opositores fazem governos, e o jogo de interesses acaba definindo partidos e propostas políticas.
Pelo linguajar dito como chulo, em contraste com o do último presidente braisleiro, o renomado sociólogo e aplaudido no mundo todo, Fernando H. Cardoso, Lula é diariamente massacrado por opinantes preconceituosos que julgam toda e qualquer ação do seu governo baseando-se em seu grau de instrução.
Apesar de não ser de todo a favor dos extremistas, que acham que toda aparição de Lula nas grandes mídias (Rede Globo, Folha de São Paulo...) seja pensada em tom manipulador, acredito que este seja o argumento menos viável da direita atual: condenar Lula pelos seus discursos. Se ele é o burro, metalúrgico e alcoólatra, como gostam de evidenciar, porque os grandes e demagogos PSDBistas não entendem sequer uma metáfora?
Isso sim, é manipulado. O tom da crítica de José Serra, formado em economia e que já deu aula na faculdade Sourbonne, na França, do jeito que foi posto no site Uol, apenas contribui para uma visão negativa do atual presidente. E isso só piora se pensarmos que o bispo Dimas Barbosa, secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) criticou Lula e deu-lhe uma tardia aula de cataquese explicando a relação de Jesus e os fariseus. Quem são os fariseus? De que merda isso importa na política brasileira? E o que a Igreja católica tem a ver com isso? Bispo deveria se limitar às suas missas e sua paróquia. A frase é completamente metafórica, e não uma herege, como foi maquiada.
E, nós sabemos que, se quisesse, a mídia poderia transformar a frase de Lula em poesia pura. Afinal, não é assim que as besteiras de Arnaldo Jabor, Alexandre Garcia, Diogo Mainardi e ( _|_ ) José Simão são vistas por esse meios de comunicação? Tá na hora de mudar o discurso. O Brasil precisa de algum príncipe europeu como governante? De Madame Matarazzo no governo de São Paulo? De engenheiro civil formado pela POLI mas com extenso currículo de roubalheiras? Ou será que precisa de alguém que represente a realidade nacional? O sofrimento de grande parcela do povo e que, só por ter sentido esse sofrimento na pele, é difamado constantemente.
Precisamos de um político que nos represente bem exteriormente? Que eu saiba, a popularidade de Lula no exterior é igualmente alta, tanto quanto a sua por aqui, ou será que os cumprimentos de Mr. Barack Obama ("That's my man") e a escolha do Rio como sede olímpica não são suficientes exemplos? E, aliás, em tempos de Sílvio Berlusconi no poder na Itália, Nicolas Sarkozy desfilando ao lado da prostituta cantora Carla Bruni na França e um Nobel da paz comandando um país em guerra no Oriente Médio, acho que Lula faz até bonito em qualquer cenário internacional.

Sem mais, grande desabafo político!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Um bem, e uma necessidade, de todos.

Após anos de desenvolvimento impensado, sobretudo dentro do modelo capitalista, nos deparamos com um meio ambiente fragilizado. Neste contexto, nas últimas décadas, surge uma urgente, porém tardia, preocupação, e temas como preservação ambiental e sustentabilidade se tornam constantes. A preocupação não deve cessar, mas só aumentar, já que hoje já nos conscientizamos da importância do meio ambiente a todos na Terra e dos riscos que este corre.
As primeiras medidas foram tomadas em relação às grandes empresas e Estados desenvolvidos, notadamente, poluidores em potencial em busca do grande desenvolvimento capitalista. Acordos e reuniões como o Tratado de Kyotosão exemplos das primeiras mudanças. Com o tempo, países e multinacionais noticiarão que, sem ajuda do meio ambiente, lucro e capital de nada valem.
Porém não se resume apenas a estes grandes responsáveis.Cada atitude humana, por mais pequena que pareça, traz grandes avanços. Questões como racionamento de água, energia e combustíveis já se tornaram conceitos primários em nossas vidas, os quais, infelizmente, muitos insistem em negar. Campanhas como por exemplo a "Xixi no banho", da fundação SOS Mata Atlântica nos conscientiza que algo antes visto como "porquisse" pode ser de extrema ajuda ao economizar água das descargas.
E, cada vez mais, estas atitudes se tornarão cruciais para o homem e o planeta, o que é perceptível ao evidenciarmos as proporções que questões ambientais vem tomando. Caso a senadora Marina Silva se candidate, o próprio futuro presidencial brasileiro pode ser decidido por questões ecológicas, uma vez que estas estão claramente inseridas nas propostas do Partido Verde, ao qual a senadora acaba de ingressar.
E é isto que o meio ambiente representa: algo amplo, irrestrito, que beneficia desde cidadãos comuns a eleições políticas. E é assim que nossas atitudes devem ser tomadas, sem restrição, com todo e qualquer ato voltado para o ambiente, desde a simples preocupação com copos plásticos à nossa opção partidária eleitoral. Dessa forma garantimos a existência de um bem comunitário, que agracia a todos no planeta, assim como nossa própria existência.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Schools are prisons.

Sem mais...!

domingo, 4 de outubro de 2009

Deus e o diabo na terra do sol.

O homem sempre encontrou na religiosidade seu conforto, seu anestésico, para problemas aparentemente insolucionáveis. No Nordeste brasileiro, mais precisamente no sertão, nos deparamos com uma situação climática que pouco favorece os habitantes do local e que, aliada a um total descaso dos governantes resulta numa calamitosa situação política, social e econômica.
Ausentes de educação, tal povo buscou em Deus seu maior aliado. As preces pela melhora de condições sempre foram constantes e, volta e meia, vemos surgirem figuras como o beato Antônio Conselheiro, que, munido apenas de profecias religiosas, prometeu mudar a vida de todo um povo. Os ensinamentos do beato chamaram o povo à revolta, que resultou num dos mais importantes episódios de nossa História: a guerra do arraial de Canudos.
Glauber Rocha, em seu antológico filme, dialoga com toda a tradição popular do sertão, dando ênfase na pobreza dos trabalhadores locais e na opressão destes por parte dos grande coroneis. Glauber utiliza do profeta Sebastião (em possível analogia a Dom Sebastião, representante de um dos maiores mitos portugueses) para mostrar a fé ingênua e de intenções libertárias do sertanejo. Mas, em dado momento da narrativa, Glauber nos lança uma ideia bastante verdadeira: percebendo que Deus não atende prece alguma, e, caso atenda, de nada melhora, o homem recorre ao próprio homem para solucionar seus problemas.
É aí que entram no filme personagens já tão presentes no imaginário nordestino: o jagunço e o cangaceiro. O cangaceiro Coristo, que diversas vezes exalta o lendário Lampião, é a síntese do homem que faz justiça e cria leis na ponta da espada e no tiro de rifle. Aliás, é assim que ele define a lei no sertão. E é em figuras como ele, e no histórico Lampião, ídolo até hoje do sertão, que o povo credita suas últimas esperanças, já que a lei legítima, de nada lhes favorece.
Derrame de sangue, fanatismo religioso, abuso de poder por parte de coroneis e muita sabedoria popular: é isso que esse grande filme brasileiro nos passa como mensagem através de uma simples câmera nervosa. Uma realidade que hoje já pode nos ter sido banalizada, principalmente de forma chula e grosseira pelas grandes mídias, mas que ainda toca a muitos, e, imagine em 1964, auge do Cinema Novo. Afinal, cada vez mais, dado à atual conjuntura, existe o medo de que o sertão vire mar e o mar algum dia vire sertão, medo tão comum nos míticos sertanejos.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Panis et circensis.

"Chega de sermos um país pequeno", disse hoje, o presidente Lula, após receber a notícia de que o Brasil, mais especificamente a cidade do Rio de Janeiro, será sede das Olimpíadas de 2016. Não poderia existir momento melhor para a frase de Lula ou para a escolha do Rio como cidade olímipica na História brasileira.
Pagamento da dívida externa, boa imagem perante o Banco Mundial e o FMI, um presidente que se dá ao luxo de "brincar" com Barack Obama e ostenta récorde de popularidade perante os eleitores. O Brasil realmente, não é mais um país pequeno. Afinal, que país pequeno pode arcar com os 25,9 bilhões (BILHÕES!) de reais estimados para as Olimpíadas? É isso que o Brasil acaba de adquirir: um fardo com esse altíssimo valor monetário. Além, é claro, da imensa satisfação popular do sempre feliz povo carioca, agora, mais nacionalista do que nunca. 2016 será o ano do nacionalismo. O Brasil nunca viu tantas bandeiras hasteadas como verá nesse ano, e as manifestações já se iniciaram.
A situação não é de todo horrível. É claro que o discurso demagógico "Rede Globo" de que os Jogos Olímpicos trazem progressos, lucros com o turismo, grande circulação de capital e melhoria no sistema de transportes é um pouco válido. Mas e lucros com o comércio externo? E progressos na educação e saúde? E a grande circulação de capital per capita? Qual o valor de uma olimpíada se analisarmos esses quesitos, os quais o Brasil apresenta em grande carência?
Parece radicalismo, mas é uma opinião bastante sensata: as Olimpíadas nada mais são do que um grande exemplo do panis et circensis contemporâneo, herdado da antiguidade romana, que vivemos. Os grandes eventos esportivos sempre tiveram esse caráter, Olímpiadas, mais do que qualquer outro. O Brasil, com essa nova fase, se afirma como maior potência esportiva do mundo, algo que ele já tem tradição há tempos, além de potência econômica. Mas é triste ver que foi esse o modo que nosso país e povo encontraram para crescer em termos mundiais.
O povo brasileiro precisa entender que não é orgulho algum gastar bilhões de dólares em construções de estádios e estrutura olímpica (que inclue um sistema de segurança ótimo, mas que dura apenas o tempo dos jogos, pouco auxiliando a população) enquanto temos, no Rio, milhões passando fome. Milhões aderindo e financiando o tráfico de drogas. Milhões morrendo em nome deste e da violência que permeia a capital carioca. Mas aí, viveremos sete anos de grande ânsia e expectativa e um mês de comemorações, quando os jogos se iniciarem. E, se tratando do povo brasileiro, isso os faria o povo mais feliz do mundo, amando demasiadamente seu país e pátria cada vez mais a cada medalha conquistada e, durante esse tempo, nossa imprensa jamais noticiaria alguma catástrofe. Tudo como Július Caesar previu em sua Roma imperial.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Nacionalismo forçado.

Vi no "Jornal Hoje" (!) essa semana: agora é, por lei, obrigatório que alunos cantem o hino nacional ao menos uma vez por semana na escola, enquanto a bandeira é hasteada. O Brasil tem sérios problemas quando se trata do ideal nacionalista. E este já nos foi imposto outrora, na digníssima ditadura militar, onde, diariamente se era obrigado a cantar o hino nas escolas.
Não acho que este seja o caminho. Aliás, não é! Não que eu concorde com os acéfalos que batem palmas ao fim da execução, ou que ainda insistem em levar a mão direita ao coração, parecendo mais uma posição fúnebre do que quqlquer outra coisa. Mas a imposição nunca é o ideal, e a ditadura militar brasileira não deve ser tomada como exemplo pra nada.
O nacionalismo deve ser algo espontâneo, adquirido através da idade e a identificação com a política, história e cultura do país. Mas, a questão é, em tempos de invasão cultural estadunidense, american way of life, e cultura popular brasileira como sinônimo de funk, pagode e futebol, como despertar tal interesse? Mais uma vez o problema reside numa questão mais profunda do que pensamos. A educação brasileira se esqueceu do tal nacionalismo por décadas e acha que agora, forçando alunos a memorizar uma letra de canção, o resgatará.
Ainda temos o futebol e as eventuais competições esportivas, datas em que todo brasileiro jura por Deus que é nacionalista ao extremo. Chega a ser ridículo ver o país povoado por bandeirinhas, faixas verde-amarelo e pessoas decorando a letra dos hinos para não fazer feio quando este tocar nos bares em que assitirão aos jogos.
O pensamento brasileiro tem muito que mudar antes de o hino nos ser atirado aos ouvidos e entrar por osmose no cérebro, até porque não são muitos os que compreendem alguma coisa de sua composição. Seria sim, ideal, um dia em que todos parassem, com o devido respeito e atenção, para escutar, acompanhar e se emocionar com a canção, mas não é nada bonito ver centenas de adolescentes estáticos e mumificados num pátio escolar ansiando desesperadamente pelo sinal do recreio.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Um povo sem passado é um povo sem futuro.

O povo brasileiro apresenta um sério descaso em relação ao conhecimento de sua própria história, o que acarreta na triste situação política que vemos se repetir no país desde o colonialismo. No século XXI, dito como era da informação, é desconfortante observarmos àqueles que detêm da educação de qualidade e dos meios de comunicação se recusarem à, por exemplo, obter dados sobre o passado dos candidatos que elegem. E, posteriormente, essa parcela privilegiada da população culpa as classes mais baixas pelos problemas políticos.
Isso prova que a falta de informação não é presente apenas naqueles não dispõem dela. O Brasil tem uma tradição falha em relação ao ensino de história. Muitas escolas e professores se preocupam demasiado com datas, nomes e acontecimentos, mas não com as implicações políticas, filosóficas e culturais destes. Ainda temos um leque enorme de eventos mal contadose que iludem o povo até hoje, como a Inconfidência Mineira, além de uma galeria de personagens pouco dignos que são heroicizados, como o famigerado Duque de Caxias.
Atualmente, a situação se mostra cada vez pior, beirando o caos, uma vez que o brasileiro simplesmente perdeu a memória de fatos políticos recentes, de no máximo duas décadas atrás. Não é por acaso que nosso Senado conta, hoje, com famosos protagonistas de escândalos políticos, inclusive o responsável pelo punico impeachment presidencial de nossa História, o que resulta numa não muito surpreeendente crise.
A questão é bem mais ampla do que mera conscientização. É hora de mudarmos o modo como encaramos a História. Esta precisa ser enxergada como ciência crucial para o nosso desenvolvimento científico, econômico e social. Precisamos perder a ideia obtusa de que esta é inútil por tratar apenas do passado, o que sequer é verdade. E, querendo ou não, é no passado e, consequentemente, na História, que encontramos todas as respostas para o futuro, que pode ser bem mais ameno com a nossa ajuda.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Elogio da loucura.


Erasmo de Roterdã escreveu esse clássico da literatura digressiva e filosófica em 1508. Auge do humanismo, renascimento cultural e expansão marítma. Época de mudanças, que ousava e prometia distar-se daquela sombra cultural cristã da Idade Média.
É difícil, ao ler o livro, situá-lo nessa época. Soa visionário, polêmico, inovador e arrojado demais. Erasmo usa como narrador, em primeira pessoa, a Loucura, deusa das insanidades e da embriaguez. Esta, inicia um discurso totalmente eloquente, falando a esmo, repetida ou impensadamente, e, justamente, se colocando como respensável por toda e qualquer forma de felicidade humana.
A princípio imaginamos Erasmo fazendo uma crítica ao classicismo greco-latino, ou ao próprio Renascimento, pois este, por exemplo, critica filósofos, poetas e artistas em seu livro. Para ele - e para a Loucura- filósofos de nada contribuem para uma nação, ao passo que são velhos barbudos e chatos. Pouquíssimos felizes, sem amigos. Agora, os bêbados, sadios e corados, com suas graças e escárnio, sim, são queridos, amados e responsáveis por grandes conquistas.
Aí percebemos que Erasmo, 500 anos antes, fez o mesmo que grandes escritores como George Orwell, Aldous Huxley e Machado de Assis, previu o que parece ser o fardo da intelectualidade: ignorância é uma benção! A felicidade é muito presente e evidente nos alienados, nos "cegos" e nos descrentes. Descrentes, no caso, aqueles que não crêem na humanidade e nos problemas desta, uma vez que sequer sabem que existem. Não os descrentes religiosos. Pois, como atesta a Loucura, a religião é sua maior contribuição.
Afinal, segundo ela, o que mais louco do que crer em algo abstrato, invisível, a partir meramente de afirmações de padres, bispos e pastores e, no caso, de um livro sagrado. Erasmo teceu, com um texto irônico, que em certos momentos beira o hilário, uma obra prima que afirma, nos jogando na cara, que a sociedade em que vivemos é absurdamente louca, surreal e digna de verdadeiras gargalhadas dos deuses, no caso, da Loucura.
É surreal nossas instituições religiosas, econômicas, políticas e sociais. Erasmo não poupa nenhuma delas, numa época que pensar era para poucos, os quais não costumavam ser agraciados por este fato. Tanto que "Elogio da Loucura" entrou para o index de livros proibidos da contra-reforma católica, foi condenado à fogueira, juntamente do autor, que se exilou na Inglaterra renascentista de Thomas Morus, em cuja casa escreveu tal obra.

sábado, 1 de agosto de 2009

Taxi Driver.

Martin Scorsese filme com perfeição a sujeira das ruas de Nova Iorque nesse clássico de 1976. Enfoque especial para o clima pesado, as protistutas, os traficantes, os viciados e a violência presente nas noites da cidade. Tudo isso contribui para a paranoia crescente e obssessiva do protagonista, Travis Bickle, brilhantemente interpretado por Robert DeNiro. Travis se indigna com um sistema do qual, sem saber (ou querer), faz parte. Sua indignação chega a um ponto máximo quando é transferida para a corrúpta e insensata política dos governantes americanos, culminando na tentativa de assassinato do senador candidato à presidência.
Travis, de tão alienado, chega a ser ingênuo. Levar a "namorada" a um cinema pornô, por exemplo, define a vida limitada que leva dentro de seu táxi, alternando apenas para cafés com pareciros taxistas que se gabam de terem armas ou treparem com passageiras ou irem a clubes pornô. Travis é um homem de bem. Como ele mesmo diz, a sujeira da cidade não o faz bem, lhe dá náuseas, dores de cabeça, mas sem cultura, diversão e companhias, "A God's lonelly man" , como o próprio se intitula, ele não tem opção senão se transfomar num psicótico lunático que só encontra uma maneira para acabar com o sistema corrosivo em que vive: a violência, tão característica do mesmo.
Travis é uma vítima. Nada mais do que isso. Uma vítima que não suportou conviver, num pequeno período de tempo, com as madrugadas de uma cidade que, à luz do dia, se mostra alegre e festiva. Para alguém como ele, a única opção foi a chacina brutal vista no filme, mesmo que bem intencionada. E aí, como de costume, a mídia transforma o grande assassino num herói pacificador. Talvez seja por essa e outras que o mundo ainda veja tantos Travis surgirem por aí. Um aglomerado de sujeira cria um degenerado, igualmente sujo, mas que se nega à sua própria origem. Chega a ser irônico, triste e comovente, como a vida do personagem, que encontra redenção e alcança objetivos apenas após disparar alguns tiros.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Bom gosto é excentricidade?

Não é raro eu ouvir coisas do tipo "nossa, mas você não gosta de nenhuma banda" ou "como você é chato pra filmes" quando entro em discussões sobre meus gostos com a maioria das pessoas. Levando em conta que eu tenho mais ou menos três mil músicas no meu acervo, a frase talvez seja devido ao fato de eu não escutar as Pussycat Dolls ou o Vítor e Léo, e sim preferir coisas de indubitável maior qualidade de décadas passadas ou não. O mesmo vale para filmes. Não gostar, por exemplo, de "Velozes ou furiosos" e da última comédia da Cameron Diaz, mas sim de filmes pouco conhecidos e "velhíssimos" te torna um verdadeiro chato e fora da atual moda.
Ah, a moda. Talvez seja ela a culpada. Talvez seja ela a maior praga da chamada pós-modernidade. Não apenas o fato de ela ser uma indústria que produz roupas a preços desumanos para serem compradas pelos ícones atuais desfilarem sobre tapetes vermelhos, mas sim a tentativa de unificar as pessoas em um único gosto literário, musical, cinematográfico e num único estilo.
A juventude atual se veste igual, compra, ouve, lê, vê as mesmas coisas e sequer se incomoda com isso. É assim que se incluem, se autoafirmam, se identificam. E tudo o que for um pouco diferente é excêntrico, bizarro, cafona e, é claro, chato! Filmes com grandes roteiros psicológicos são confusos e parados; livros clássicos da literatura são chatíssimos; músicas com letras trabalhadas e arranjo legal são pouco dançantes e, ah, o cantor já morreu, então deve ser péssimo. Pior do que a moda, apenas seus defensores, que são simplesmente os seres com menos argumentos possíveis. Eles apenas se alienam e se deixam levar, sem resistência alguma, pela mídia, pelo sociedade de consumo, e vão ingerindo diariamente altas doses de lixo vendido pelo Mercado, pelo marketing e pela mídia jovem. É como Aldous Huxley havia previsto, milhões de seres humanos iguais desepenhando a mesma função: comprar e obedecer, no caso.
É triste ver a que ponto chegamos e que a culpa é de nós mesmos, sociedade, que aceitou tais valores corrompidos em troca de um carro sport, uma jaqueta Armani e um livro da Stephanie Meyer, afinal, a felicidade nos dias de hoje se resume apenas nesses três valiosos itens.



terça-feira, 14 de julho de 2009

Dez maiores hinos do Rock.

Listagem feita por mim, em comemoração ao dia do rock, mas que será publicada com um dia de atraso devido a erro do próprio Blogger. Here we go...

10 - Blitzkrieg Bop.
O punk é como um divisor d'águas na história do rock. A partir de meados da década de 80 o estilo se populariza e quebra com aquela tradição de progressividade e peso do rock clássico, inspirando quase tudo o que viria a ser feito posteriormente. Os Ramones não são a maior nem mais famosa banda de punk rock, uma vez que sequer tinham envolvimento com a política, como o punk inglês, mas sintetizam a música rápida, simples e agressiva que é o punk, principalmente nessa canção, imortalizada pela frase "Hey, ho, let's go".
9 - All along the watchtower.
Diz a lenda que quando Bob Dylan leu a bíblia beat "On the road" fugiu de casa em busca de inspiração e passou a compor suas poesias, que marcaram a contracultura norte-americana da década de sessenta. Tal movimento se opunha à guerra do Vietnã, ao consumismo e as injustiças raciais dos EUA na ocasião, e essa canção, com letra de Dylan, na versão de Jimi Hendrix, lembrado até hoje como maior guitarrista da História, é o exemplo máximo do rock libertário e engajado da época.

8 - Lucy in the sky with diamonds.
Os Beatles não são exatamente uma banda de rock, mas simplesmente a maior banda da história da música, em matéria de fama, popularidade, vendas ou canções eternizadas. Uma destas canções, "Lucy in the sky with diamonds", marca a fase psicodélica da banda, e gera até hoje especulações, principalmente sobre a possível presença da palavra LSD nas iniciais da música. Teorias conspiratórias, drogas e psicodelia: a música é um hino dessa fase criativa e alucinógena do rock.7 - Paranoid
O Black Sabbath é tido como criador do Heavy Metal, o que já os eleva a um patamar extremamente inspirador e criativo dentro do rock. A voz abafada de Ozzy, os riffs fúnebres e tidos como satãnicos de Tony Iommi marcam uma caracterização mística e de terror dentro da música, algo muito comum no rock feito após o grupo. A súplica "Can you help me ocuppy my brain" proferida nesta música mostra a figura do rockeiro atordoado e incompreendido, eternizado dentro do estilo.
6 - Another brick in the wall.
O Pink Floyd é outra banda de rock extremamente inovadora. A formação clássica dos músicos, aliada à grande harmonia das notas e psicodelia os tornou os maiores representantes da progressão. A música "Another brick in the wall" e seu memorável refrão "Hey teacher, leave them kids alone" marca o álbum "The wall", obra-prima da banda com letras cheias de significados e mensagens psicológicas, como pode ser visto nas pertubadoras imagens do filme homônimo de 1982.
5 - My Generation.
O The Who simplesmente criou a presença de palco, a perfórmance e a energia agressiva e extremamente viva do rock n' roll. Os saltos do guitarrista Pete Thowsend, os movimentos do vocalista Roger Daltrey, os golpes rápidos de Keith Moon na bateria aliados ao controle do baixo de John Entwistle, tudo isso marcou uma das maiores bandas do rock. A atitude romântica, marcada pela frase "I hope I die before I get old" e as quebras de instrumento e cenário inspiraram uma geração expressiva e incosequente, para a qual a única definição de felicidade era a boa música e a liberdade.
4 - Stairway to heaven.
Apesar de possuir uma música chamada "Rock and roll" e que com certeza também é um hino, é "Stairway to heaven" a música mais popular do Led Zeppelin. Nela podemos presenciar a perfeição dos instrumentistas e o vocal inigualável de Robert Plant, em tom melódico mas em algumas partes beirando à agressividade, o que serve de prévia para maiores e melhores músicas da banda, uma das mais completas do rock.
3 - Rock and roll all night.
A frase "I wanna rock and roll all night and party every day", da música do Kiss, resume os desejos de todos os rockeiros. Ainda mais vinda da banda de hard rock com uma das apresentações mais marcantes da história, com muitas luzes, pirotecnia e jorros de sangue, além de uma música com tirmo rápido e pesado. Fora as conspirações, tão características do rock, que permeiam a banda, como por exemplo o nome da banda que seria a sigla para Kids in Satan Service, ou à respeito da língua do baixista Gene Simmons. O Kiss tem o rock como alma de suas perfórmances e de suas músicas, tendo entrado prà história com suas carecterísticas singulares.2 - Tutti Frutti.
Uma das músicas pioneiras do rock, originalmente de Little Richard, marca bem o que seria este estilo que já tem mais de 50 anos. Ritmo dançante, rápido, com sonoridade diferente de tudo que já havia sido feito, a música inaugura com perfeição o rock, e é até hoje lembrada nas sessões de dança de rock clássico, ainda mais por ter sido gravada pelo popularíssimo Elvis Presley que acabou recebendo o não tão merecido título de rei do rock, que caberia muito melhor a Little Richard, por exemplo, um dos reais criadores do maior estilo musical da História.1 - Satisfaction.
Os Rolling Stones são uma unanimidade. Se popularizaram eternamente entre fãs de qualquer estilo musical, principalmente com "Satisfaction". Apesar de a real qualidade da banda transcender a opinião popular e o valor comercial, sendo apenas visível por aqueles que entendem o verdadeiro espírito do rock n' roll e que pode ser definifo pela atuação agitada de Mick Jagger, a guitarra imortal de Keith Richards e a bateria estruturada de Charlie Watts, por exemplo. Quem nunca gritou "I can't get no satisfaction" e se libertou ao fazê-lo? Então um grande viva aos Stones e ao hino que criaram para representar o estilo mais libertador de todos.

domingo, 12 de julho de 2009

Dia mundial do Rock!

We roll tonight (we're on tonight)
to the guitar bite
yeah, yeah, oh

Stand up and be counted
For what you are about to receive
We are the dealers
We'll give you everything you need
Hail hail to the good times
'Cause rock has got the right of way
We ain't no legend, ain't no cause
We're just livin' for today

For those about to rock, we salute you
For those about to rock, we salute you

We rock at dawn on the front line
Like a bolt right out of the blue
The sky's alight with the guitar bite
Heads will roll and rock tonight

For those about to rock, we salute you
For those about to rock, we salute you
For those about to rock, we salute you
Yes we do
For those about to rock, we salute you

Oooh, we salute!
Oooh, ooooh yeah

We're just a battery for hire with a guitar fire
Ready and aimed at you
Pick up your balls and load up your cannon
For a twenty-one gun salute

For those about to rock - fire
We salute you
For those about to rock, we salute you
Those about to rock - fire
We salute you
Fire

Fot those about to rock, por ACDC.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Woody Allen.

Demorei bastante pra começar a ver filmes do Woody Allen. No dia em que resolvi que ia alugar um, me recomendaram "Manhattan". Não vou mentir que o filme me deu um pouco de sono, devido ao horário e à monotonia. Mas após o término e uma curta reflexão, as frases irônicas e inteligentíssimas proferidas pelo protagonista, interpretado por Allen não me saíam da cabeça. A fotografia do filme, que consegue transfomar Nova York num lugar desejável até para mim, também é de se admirar.
Após essa conclusão dei uma segunda chance ao diretor, e não poderia ter escolhido melhor: "Annie Hall" (cujo título no Brasil me recuso a repetir). Mais uma vez Allen interpreta um sujeito irônico e inteligente. Os diálogos do filme nos fazem esquecer da monotonia. A excentricidade da personagem título, a eterna musa de Allen, Diane Keaton, e as paranoias do protagonista são, para mim, antologias na comédia.
Não bastasse isso ainda conto no meu acervo com "Rosa púrpura do cairo", o único romance água-com-açúcar que digiro facilmente e com gosto devido à inteligência, "Match point", um dos melhores filmes que já vi, onde Allen surpreende provando que sabe fazer suspense como faz comédia, "Vicky Critina Barcelona", onde mais uma vez o cenário é um personagem marcadamente importante para a história e a ótima Penélope Cruz sintetiza tudo, e, por fim, "Tudo o que você sempre quis saber sobre sexo", com humor irônico, escrachado, surreal, e, novamente, genial. Afinal, quem não se diverte ao extremo ao se lembrar da figura mirrada de Allen vestindo uma roupa de espermatozoide? (Vide foto.)
Aos seus setenta e poucos anos, Woody Allen é uma figura exencial na história do cinema. Não bastasse sua irreverência, contamos ainda com seu amor pelo cinema, o que nos faz amar a este e à sua obra ainda mais. Não dá pra negar, por exemplo, que Rosa púrpura é uma homanagem e tanto à sétima arte. E o fato de o imaginarmos como seus personagens: irônico, cômico e neurótico ainda aumenta o apreço. Que cineasta, ainda vivo, merece mais respeito do que aquele que simplesmente não compareceu ao Oscar no dia em que seu filme recebia quatro prêmios, inclusive o de melhor diretor? É uma prova de que Hollywood pode sim produzir coisas boas quando tocada por almas boas e que, no fim, a negam ao máximo.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Brad Pitt, David Fincher e Benjamin Button.

Apesar de, hoje, Brad Pitt ser alvo constante da mídia, das produções sem cérebro hollywoodianas e dos tabloides, sua essência guarda um grande ator. Acho que não há nada melhor para exemplificar tal fato do que citar o eterno Tyler Durden de "Clube da luta". Na minha humilde opinião de fã , Tyler é o maior personagem da história do cinema. Mas óbvio que para tal, precisamos de um filme como "Clube da luta". Com um roteiro complexo, psicológico e chocante o filme é uma grande mensagem (mais uma vez) sobre a pobreza humana, o consumismo, a futilidade, tudo isso marcado por Tyler, aquele que todos homens gostariam de ser. Ele tem atitude, ele come a mulher que você deseja, ele rouba carros importados e mesmo assim consegue viver alheio à essa sociedade de consumo e marketing. Tudo o que ele precisa pra ser tão marcante é, simplesmente, uma casa caindo aos pedaços.
David Fincher, diretor que, ao meu ver, entrou prà história do cinema com essa obra prima, ainda tem no currículo o ótimo "Seven". Apesar duma caracterização mais pop, o filme é um suspense envolvente, de final surpreendente, roteiro inusitado e percursosr do gênero "Jogos mortais", que é, no mais, apenas uma cópia descartável. Brad Pitt, mais uma vez, atua excelentemente, dando toda a ingenuidade de que seu recém inciado detetive precisa, mas com igual fúria e paixão, pecados condenados no caso do filme.
O último trabalho de Fincher e Brad, o oscarazido "Benjamin Button", é outro acerto, tanto por parte do diretor quando do ator. Novamente tem uma modelagem mais popular, tem um tom épico de superprodução, mas acho que isso condiz com a saga do homem que nasce velho e morre como um recém-nascido. Uma metáfora brilhante sobre a vida, a morte, a experiência e o aprendizado. Será que é necessário, para o ser humano, um surrealismo desses, para entender o quão necessário nos é cada perda, cada percalço, cada caminho tortuoso? Como sempre dizem, o fim, nada mais é do que o fim. O acréscimo verdadeiro está no percurso.
Fincher pode, então, ser alçado a um patamar elevado na cinematografia mundial, já que comparado a atuais e mais cultuados diretores, desenvolveu obras incoparavelmente melhores. Brad Pitt, seu escolhido, contribui fortemente para tal e, desconsiderando os erros como "Troia", se consagra também um grande ator, desde (e principalmente) o início de sua carreira.

domingo, 5 de julho de 2009

Big Brother is watching us.

O digníssimo prefeito de Mogi Mirim e alguns vereadores pretendem, em breve, aprovar uma lei de "toque de recolher" na cidade. A liberdade de menores de dezoito anos seria limitada após certo horário, onze horas da noite, presumo eu. Segundo os políticos e alguns promotores, a lei visaria o combate ao abuso de menores e violência contra os mesmos. Mas fica implícito também a suposta violência que menores possam vir a causar na cidade.
Bom, acho indiscutível o rigor de tal lei, que, ao meu ver, é um atentado à liberdade pessoal, que muitos insistem em dizer que possuímos há mais ou menos dois séculos. Os tempos de nefasta ditadura militar no Brasil já foram, mas, como fica cada vez mais evidente, muitos querem a volta desta, ou pelo menos de algumas medidas da época. Não seria mais fácil e eficiente o controle policial pela cidade durante as madrugadas, evitando vandalismos por parte dos menores, além de dar segurança àqueles que, inocentemente, vagam pelas ruas da cidade às quatro da manhã apenas visando voltar para casa?
O descaso das autoridades no Brasil sempre resulta nisso: medidas drásticas que pouco ajudam, apenas ferem mais. Seria indignante para mim, nos meus quase dezoito anos me submeter à tal medida. Bom, é como muitos sempre previram: os tempos do Grande Irmão nunca foram de todo fictícios na obra de George Orwell. Vamos lá, todos nós devemos submissão ao Estado em nome da ordem e do progresso! E pensar que o Brasil nunca foi um páis com hábitos de censor.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Hipocrisia como característica social.

Não sou, nem almejo ser, um exemplo de valores. Mas a questão é maior do que valores: durante toda a vida, a cada erro, a cada atitude digna de desaprovação, estão todos lá, prontos para apontar, comentar e criticar. Não é, óbvio, que eu nunca tenha agido assim. Quem não é imperfeito a ponto de cometer esse tão comum erro humano? Mas é engraçado, irônico, quase hilário, ver aqueles que mais evidenciaram seu erro, e que mais o oprimiram, a fazer o mesmo, com orgulho e um sorriso na face.
Bom, é aquela coisa, assim diferenciamos quem faz algo por vontade própria, e quem faz por vontade alheia. Estes, os que menos deveriam se manifestar, adoram apontar os primeiros, pois fazem algo que não os encaixa, ainda, no grupo...

Enfim, desabafo. Bullshit!

terça-feira, 30 de junho de 2009

"Tempos modernos", a revolução industrial e o capitalismo.


Tá certo que se não fosse a famigerada revolução industrial, de meados do século XVIII, eu não estaria escrevendo nesse blog, nesse computador, nem talvez possuísse metade dos utensílios tecnológicos que possuo e que "tanto" dignificam minha vida. E também não vale a pena discutirmos o "e se não tivesse ocorrido a revolução...", visto que a História, apesar das discordâncias, trabalha com fatos, não com suposições ideológicas.
Mas uma coisa é fato para muita gente: tal advento marca a consolidação do capitalismo como modo de produção vigente e lhe caracteriza como selvagem, opressor e desigualitário, como o vemos hoje. O filme de Charlie Chaplin, "Tempos modernos", de 1936, é uma obra atemporal que até hoje preserva sua veia cômica (obviamente que esta só é válida para aqueles mais aptos ao humor de Chaplin, não ao de "American pie") justamente pelo fato de a situação capitalista, industrial e fabril não ter mudado. Óbvio que contamos hoje com direitos trabalhistas e condições teoricamente boas, mas o trabalhador, para o sistema, continua sendo apenas mais uma engrenagem, que serve apenas para fazer as engrenagens das máquinas ganharem movimento, uma vez que estas sim são as protagonistas do processo. E, como todo coadjuvante, os operários têm vida curta.
Já dizia Karl Marx, o trabalho, na conjuntura da revolução industrial, aliena e limita o homem. O personagem de Chaplin se torna um obssessivo "rosqueador", devido às prováveis dezoito horas em que passa numa fábrica executando essa mesma função. Tal situação torna, o trabalhador atual, um animal repetitivo com poucas chances de ascensão e escapatória de tal sistema. Temos, sim, exemplos de superação e de grandiosidade dentro de tal realidade, mas exceções nunca puderam ser consideradas como regras. O capitalismo sufoca o ser humano, sufoca o amor e sufoca a arte, como também é mostrado no filme. É incrível vermos a atual associação entre dinheiro/sucesso com qualidade e arte. Bom, apesar de bastante vendável, me recuso a chamar Paulo Coelho ou Mc Créu de arte, ainda mais de qualidade.
O sistema capitalista enfrenta uma enorme crise, vista muitas vezes por um âmbito otimista pelo próprio sistema, mas a situação, para alguns teóricos parece bastante desoladora. A quase falência de empresas automotivas, culminando na compra destas por representantes internacionais e, muitas vezes, o apoio estatal, tão combatido pelo capitalismo financeiro... bom, é ao menos contraditório, e a contradição sempre foi um sinal de falha irreconciliável.
São muitos o que esperam não só pela queda de tal sistema, mas sim como melhorias nele próprio. O favorecimento de uma pequena parcela burguesa, que não aproveita das chances que o capital lhes pode oferecer é indignante, pois estes que poderiam ser os principais arautos da busca por mudanças se fecham num profundo individualismo egoísta (outra característica capitalista) buscando apenas mais valia eterna. Enquanto o mundo preferir construir robôs a remédios, mísseis a abrigos e palanques a escolas, nada podemos fazer além de discordamos e, à nossa maneira, lutarmos contra algo instaurado na maldita revolução industrial do século XVIII, que pode não ser o capitalismo, mas talvez o pensamento capitalista, consumista, neoliberal e individual.

sábado, 27 de junho de 2009

Ensaio sobre a cegueira.

Apesar da arrogância e da escrita esdrúxula, José Saramago é um dos mais influentes intelectuais e pensadores vivos. Suas opiniões políticas, bastante criticadas pela direita conservadora são de uma verdade impressionante. Sempre apresenta críticas ferrenhas e muito bem colocadas sobre, por exemplo, a globalização e o atual imperialismo dos países ricos. Admito que, além de pequenos textos, de sua autoria só li metade do aclamado "Ensaio sobre a cegueira". Sou extremamente contra encerrar uma leitura pela metade, até Paulo Coelho eu termino, quando começo. Mas dessa vez, obrigado por fatores externos, desisti do livro, e assisti ao filme. Sem discutir a qualidade deste, que tem como direção e produção de arte pontos fortíssimos, entremos na discussão lançada por Saramago em seu livro, ignorando o roteiro superficial do filme.
A epidemia misteriosa de cegueira obriga uma parcela da população (no caso do livro, portuguesa) a se refugiar num manicômio abandonado, pra onde o governo envia alimento e produtos de primeira necessidade, mas não por muito tempo. Não encontrando possibilidade de cura para a doença o governo faz exatamente aquilo que está acostumada a fazer defronte situações de miséria e pobreza em países como o Brasil: ignora e deixa de lado. Com cada vez mais cegos e menos condições, o manicômio se torna um local hostil, imundo, nojento, com pessoas morrendo, sendo abusadas poelos militares que dominam o local e impõem regras com rifles. Nada de diferente da realidade.
A única pessoa que enxerga no local, poderia se dispor a ajudar a todos aqueles necessitados, mas esconde sua capacidade de visão, utilizando para benefício apenas próprio e do marido. Não é o que acontece, na vida real, com as elites, que apenas "fecham seus olhos" para a situação caótica do país? O benifício próprio sempre basta para o ser humano, e ajudar os outros gera receio. A personagem em questão, tem medo de revelar sua condição, pois assim seria acediada pelos cegos em busca de ajuda.
Ajuda esta extremamente necessária, uma vez que, à metade do livro, o manicômio encontra-se bestializado, com mortes constantes, grupos de cegos detendo toda a comida e obrigando, por exemplo, as mulheres a se prostituirem para conseguir restos de alimento. Não é de se surpreender que, abandonados pelo próprio governo, o qual elegeram, o ser humano se animalize. É isso que acontece em locais ignorados pela política e sociedade. É apenas nesse ponto, finalmente, que a única vidente parece se indignar. Bom, como sempre, a alienação apenas nos desperta para o real quando já é tarde demais.
Saramago utiliza de uma metáfora profunda e chocante para criticar os governos, a política e o ser humano. Quando todos podem novamente ver, a mulher, que nunca deixou de ver, se sente cega. Talvez, como nada parece estar sendo alterado, nós todos tenhamos nascidos cegos, ainda estamos cegos e morreremos cegos. Cegos para o mundo que nos cerca, como já disse antes por aqui.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Abaixo a mediocridade.

Tenho pena de quem é medíocre. De quem se contenta com nascer e morrer. De quem se contenta, entre nascer e morrer, com ficar rico, casar, ter filhos, uma casa e dois carros. Há ainda aqueles que, para fugir dessa relés condição, buscam a grandeza necessária, mas para alcançá-la esquecem-se das grandezas alheias. É fato que um pouco de egocentrismo ajudou a humanidade a se perpetuar, mas talvez tenha sido egocentrismo excessivo que deixou esse "projeto de humanidade" o caos que é hoje. E, caso você não tenha notado o caos em que vive, acho melhor refletir sobre sua mediocridade e posição. É sempre bom pensar que há um mundo à nossa volta, maior do que nossa vida, nossas opiniões e nossos gostos. Eu não diria que ele é lindo, mas ao menos comtemplável.

domingo, 21 de junho de 2009


As maçãs envolvem os corpos nus
Nesse rio que corre
Em veias mansas dentro de mim.

Anjos e arcanjos
Repousam neste Éden infernal
E a flecha do selvagem
Matou mil aves no ar

Quieta, a serpente
Se enrola nos seus pés
É Lúcifer da floresta
Que tenta me abraçar

Vem amor
Que um paraíso
Num abraço amigo
Sorrirá pra nós
Sem ninguém nos ver
Prometo
Meu amor macio
Como uma flor
Cheia de mel
Pra te embriagar
Sem ningém nos ver

Tragam uvas negras
Tragam festas e flores
Tragam copos e dores
Tragam incensos e odores
Mas tragam Lúcifer pra mim
Em uma bandeja pra mim.

Ave, Lúcifer, por Mutantes.

sábado, 20 de junho de 2009


You say you want a revolution.
Well you know, we all want to change the world.
You tell me that it's evolution.
(...)

You say you got a real solution.
Well you know, we'd all love to see the plan.
You ask me for a contribution, well you know, we're doing what we can, but if you want money for people with minds that hate, all I can tell you is "brother you have to wait".
Don't you know it's gonna be alright? Alright alright!

You say you'll change the constitution!
Well you know, we all want to change your head.
You tell me it's the institution.
Well you know, you better free your mind instead, but if you go carrying pictures of Chairman Mao you ain't going to make it with anyone anyhow.
Don't you know know it's gonna be alright?

Revolution, por Beatles.