quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Elogio da loucura.


Erasmo de Roterdã escreveu esse clássico da literatura digressiva e filosófica em 1508. Auge do humanismo, renascimento cultural e expansão marítma. Época de mudanças, que ousava e prometia distar-se daquela sombra cultural cristã da Idade Média.
É difícil, ao ler o livro, situá-lo nessa época. Soa visionário, polêmico, inovador e arrojado demais. Erasmo usa como narrador, em primeira pessoa, a Loucura, deusa das insanidades e da embriaguez. Esta, inicia um discurso totalmente eloquente, falando a esmo, repetida ou impensadamente, e, justamente, se colocando como respensável por toda e qualquer forma de felicidade humana.
A princípio imaginamos Erasmo fazendo uma crítica ao classicismo greco-latino, ou ao próprio Renascimento, pois este, por exemplo, critica filósofos, poetas e artistas em seu livro. Para ele - e para a Loucura- filósofos de nada contribuem para uma nação, ao passo que são velhos barbudos e chatos. Pouquíssimos felizes, sem amigos. Agora, os bêbados, sadios e corados, com suas graças e escárnio, sim, são queridos, amados e responsáveis por grandes conquistas.
Aí percebemos que Erasmo, 500 anos antes, fez o mesmo que grandes escritores como George Orwell, Aldous Huxley e Machado de Assis, previu o que parece ser o fardo da intelectualidade: ignorância é uma benção! A felicidade é muito presente e evidente nos alienados, nos "cegos" e nos descrentes. Descrentes, no caso, aqueles que não crêem na humanidade e nos problemas desta, uma vez que sequer sabem que existem. Não os descrentes religiosos. Pois, como atesta a Loucura, a religião é sua maior contribuição.
Afinal, segundo ela, o que mais louco do que crer em algo abstrato, invisível, a partir meramente de afirmações de padres, bispos e pastores e, no caso, de um livro sagrado. Erasmo teceu, com um texto irônico, que em certos momentos beira o hilário, uma obra prima que afirma, nos jogando na cara, que a sociedade em que vivemos é absurdamente louca, surreal e digna de verdadeiras gargalhadas dos deuses, no caso, da Loucura.
É surreal nossas instituições religiosas, econômicas, políticas e sociais. Erasmo não poupa nenhuma delas, numa época que pensar era para poucos, os quais não costumavam ser agraciados por este fato. Tanto que "Elogio da Loucura" entrou para o index de livros proibidos da contra-reforma católica, foi condenado à fogueira, juntamente do autor, que se exilou na Inglaterra renascentista de Thomas Morus, em cuja casa escreveu tal obra.

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