quinta-feira, 22 de abril de 2010

Engajamento político? Passa amanhã.

Esse título, vindo de mim, assusta. Inclusive, e principalmente, a mim. Mas, c'est la vie. Quando você acha que seu apreço pelas causas políticas e sociais irá crescer e atingir seu ápice, você se cansa delas e abandona-as, mesmo antes de tê-las conhecido de fato. E os culpados são os próprios (ditos) engajados. Engajamento da boca para fora, com as causas erradas e, sobretudo, demonstrado com as atitudes erradas.
Por exemplo, apoiar greve dos trabalhos da universidade pública? Beleza, acho realmente uma merda que todos aqueles trabalhadores ganhem um salário ínfimo. Mas tá, dentro da empresa privada, todo mundo ganha o quanto quer, ou até mesmo o quanto merece? Será que a minha mãe ganha o quanto ela quer? E a sua? Mas você vê alguém fazendo greve? Não. Existe o medo e a possibilidade concretíssima de se perder o emprego. Mas aqueles que se escondem sob a sombra dos (baixos) salários pagos pelo estado, aproveitam-se da condição de eternos funcionários públicos, para anualmente se prontificarem à greve. Aproveitam também o universo midiático que é uma faculdade pública, ainda mais uma USP, para ganharam "voz" perante a população.
Tudo bem, não generalizemos. Meu parecer está sendo extremamente reacionário e reconheço que a greve, em alguns momentos, possa vir a ser séria e que traga sim melhorias às condições de tais trabalhadores. Mas o problema é ter que ouvir gente defendendo-a sem o menor conhecimento de causa, apenas para se firmar como "revolucionário". É muito fácil se dizer engajado e botar a estrelinha do PT no peito (coisa que você faz apenas para nadar contra a corrente na sua porca família PSDBista) sentado no seu sofá vendo Malhação e comendo Trakinas. O seu engajamento se extende até o ponto de você parar para reconhecer e afimar que "aqueles trabalhadores ganham muito pouco e isso é injusto."
Poxa, parabéns. Tenho minhas dúvidas se você foi o primeiro a pensar nisso. Talvez tenha sido, senhor gênio da revolução. É muito fácil ter papai que ganha quarenta mil reais por mês, viver com todo o conforto do mundo, e, ao afirmar o óbvio ululante, se tornar o mais engajado de todos os militantes políticos. Seria mais fácil admitir que sonha com a greve para ter uma semana a mais de descanso e retiro alucinógeno.
Vamos ter mais cuidado com aquilo tudo com o que nos engajamos. É deveras entediante ouvir, diariamente, na sua sala de aula (aula a qual foi interrompida, diga-se de passagem) de alguém que demonstra claramente não saber o mínimo sobre o que fala, um convite à "manifestação X em prol dos professores Y". O engajamento se faz com menos discursos inflamados e mais ações sutis e pouco perceptíveis aos olhos da massa. Se você acorda cedo todo dia para ajudar numa comunidade carente, beleza, nada do que eu estiver dizendo lhe é válido. Mas se o seu "auxílio" à população se extende à empunhar cartazes durante uma manifestação para, então, colocar fotos de tal ato no Orkut... me desculpe, mas a vaidade e o reconhecimento dos seus "amigos" não está ajudando em nada o mundo.
Que pareça reacionário e elitista tudo isso, foda-se. Eu sou eu e minhas convicções, e delas cuido eu. Sei em quem voto, e porquê. Sei o que acho, e porquê. E defenderei tudo isso da forma mais convicta possível. Mas não me venha vomitar teorias socialistas já mortas, socialismo no século XXI é necrofilia. Não me venha vomitar engajamento enquanto dirige o carrinho da mamãe. Não é toda e qualquer causa que mereça nosso engajamento. Bem que o "poeta" poderia ter dito: se engajar em tudo é desespero. Vamos com calma, que é assim que o braco anda. Os últimos mil revolucionários da História conseguiram bem mais gritando muito menos. Você já deveria ter aprendido tudo isto.

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