quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Quase Famosos.

Quase Famosos, de Cameron Crowe, foi um filme que assisti despretenciosamente e acabei me surpreendendo. Criei um grande apreço pelo filme e hoje o considero um dos meus preferidos, apesar de não gostar da obra de Crowe, de quem também conferi "Vanilla Sky" e "Elizabethtown", os quais não aprecio. Enfim, o que mais cativa e marca no filme é o seu clima "cool". A palavra, por sinal, é empregada diversas vezes pelos personagens do filme para designar seja algum outro personagem, alguma situação, uma banda ou o rock n' roll em si. Ah, o rock n' roll... este estilo musical aclamado por décadas que hoje sobrevive como uma chama no coração de jovens que o enxergam como uma eterna forma de rebeldia, música de qualidade e uma alternativa aos sertanejos massificadores atuais. O rock n' roll é o tema do filme de Crowe e é o que o torna tão especial. O diretor, ao mesmo tempo em que exalta as qualidades do estilo musical, desmistifica completamente seus ídolos e lendas.
Crowe, quando jovem, foi jornalista de rock, e acompanhou o Led Zeppelin, o The Who e o Allman Bothers em turnês a fim de noticiá-las na famosa revista Rolling Stone. E, baseando-se nesta sua trajetória de vida, criou a história do ingênuo William Miller, que, no filme, possui a mesma missão, mas acompanhando a banda fictícia Stillwater, claramente inspirada nas três bandas acompanhadas por Crowe. E é utilizando essa banda como metáfora central de seu roteiro, que o diretor nos passa todo o ideal de fúria e alegria do Rock, seja nas cenas de apresentação do hit fictício "Fever Dog", ou através da excelente trilha sonora, composta por clássicos de David Bowie, Elton John, The Who e Led Zeppelin, entre outros. Mas, também através da banda, ele nos mostra o lado "humano" de nossos ídolos musicais. Aquela já conhecida arrogância, petulância e necessidade de estrelato dos rockstars que, relutantemente, fingimos irrelevar.
E há ainda Penny Lane! Sim, essa grande personagem do cinema. Bonita, misteriosa e sensual. Penny é a típica groupie, mas que não vive apenas de parasitar e amar integrantes de bandas. Ela possui energia suficiente para despertar o espírito do rock n' roll em qualquer um. Energia suficiente para tornar magistrais as apresentações da banda que acompanha. Energia suficiente para seduzir tanto o rockstar Russel, guitarrista do Stillwater, quanto o bobo William. Esse pseudo-triângulo amoroso dá certa graça ao filme, e confere a William um ar mais ingênuo e pueril ainda, uma vez que, apaixonado platonicamente por uma musa praticamente inalcançável, se vê cada vez mais preso à turnê da banda, e chega a abandonar a vida que leva com a mãe para perpetuar a convivência. Mas não é só a musa que o fixa ao grupo. Que garoto de quinze anos não abandonaria a mãe católica e conservadora de William para passar a vida em um ônibus, pelas estradas dos EUA, com uma banda de rock, indo a shows, e conhecendo celebridades? É essa experiência da vida de William, que irá conhecer os prazeres do sexo, por exemplo, que torna o filme tão "cool". Um grande road movie, com um quê de coming-age movie e muita música boa para dar a liga.
Toda essa energia positiva ainda é acompanhada de cenas memoráveis. Alguns diálogos entre William e Penny refletem muito bem a sensualidade e o mistério da garota, que tem, em suas mãos, o amor e a amizade do pobre garoto. Há também as loucuras típicas de um filme de rock. Sexo, drogas e rock n' roll! Numa das melhores cenas do filme, Russel, chapado de ácido, se atira de um atalhado em uma piscina gritando "Eu sou um deus dourado" e jurando que suas últimas palavras seriam "Estou chapado". Outra cena fantástica é quando os personagens, em um avião que parecia prestes a explodir nos ares, iniciam confissões acerca de sua sexualidade e do relacionamento com os companheiros de banda. Hilária! Tais cenas, segundo o diretor, são inspiradas em acontecimento reais da vida, por exemplo, de Robert Plant e do The Who. Dessa forma, Cameron Crowe eternizou o melhor estilo de música da história num dos melhores filmes da história. E é bastante imparcial, já que não fica apenas fazendo apologias à ideologia setentista e lisérgica, como muitos filmes por aí pecam ao fazer. Há o drama humano da banda que se desintende, a disputa de ego entre integrates que notadamente já arruinou várias carreiras por aí e a figura do jornalista de rock, mítico e temido. Enfim, todos os ingredientes de um filme delicioso... boa música, cenas excelentes, grandes personagens e um clima bem "cool". Como, em certo momento do filme, é dito: "a grande indústria do cool!"

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