terça-feira, 30 de junho de 2009

"Tempos modernos", a revolução industrial e o capitalismo.


Tá certo que se não fosse a famigerada revolução industrial, de meados do século XVIII, eu não estaria escrevendo nesse blog, nesse computador, nem talvez possuísse metade dos utensílios tecnológicos que possuo e que "tanto" dignificam minha vida. E também não vale a pena discutirmos o "e se não tivesse ocorrido a revolução...", visto que a História, apesar das discordâncias, trabalha com fatos, não com suposições ideológicas.
Mas uma coisa é fato para muita gente: tal advento marca a consolidação do capitalismo como modo de produção vigente e lhe caracteriza como selvagem, opressor e desigualitário, como o vemos hoje. O filme de Charlie Chaplin, "Tempos modernos", de 1936, é uma obra atemporal que até hoje preserva sua veia cômica (obviamente que esta só é válida para aqueles mais aptos ao humor de Chaplin, não ao de "American pie") justamente pelo fato de a situação capitalista, industrial e fabril não ter mudado. Óbvio que contamos hoje com direitos trabalhistas e condições teoricamente boas, mas o trabalhador, para o sistema, continua sendo apenas mais uma engrenagem, que serve apenas para fazer as engrenagens das máquinas ganharem movimento, uma vez que estas sim são as protagonistas do processo. E, como todo coadjuvante, os operários têm vida curta.
Já dizia Karl Marx, o trabalho, na conjuntura da revolução industrial, aliena e limita o homem. O personagem de Chaplin se torna um obssessivo "rosqueador", devido às prováveis dezoito horas em que passa numa fábrica executando essa mesma função. Tal situação torna, o trabalhador atual, um animal repetitivo com poucas chances de ascensão e escapatória de tal sistema. Temos, sim, exemplos de superação e de grandiosidade dentro de tal realidade, mas exceções nunca puderam ser consideradas como regras. O capitalismo sufoca o ser humano, sufoca o amor e sufoca a arte, como também é mostrado no filme. É incrível vermos a atual associação entre dinheiro/sucesso com qualidade e arte. Bom, apesar de bastante vendável, me recuso a chamar Paulo Coelho ou Mc Créu de arte, ainda mais de qualidade.
O sistema capitalista enfrenta uma enorme crise, vista muitas vezes por um âmbito otimista pelo próprio sistema, mas a situação, para alguns teóricos parece bastante desoladora. A quase falência de empresas automotivas, culminando na compra destas por representantes internacionais e, muitas vezes, o apoio estatal, tão combatido pelo capitalismo financeiro... bom, é ao menos contraditório, e a contradição sempre foi um sinal de falha irreconciliável.
São muitos o que esperam não só pela queda de tal sistema, mas sim como melhorias nele próprio. O favorecimento de uma pequena parcela burguesa, que não aproveita das chances que o capital lhes pode oferecer é indignante, pois estes que poderiam ser os principais arautos da busca por mudanças se fecham num profundo individualismo egoísta (outra característica capitalista) buscando apenas mais valia eterna. Enquanto o mundo preferir construir robôs a remédios, mísseis a abrigos e palanques a escolas, nada podemos fazer além de discordamos e, à nossa maneira, lutarmos contra algo instaurado na maldita revolução industrial do século XVIII, que pode não ser o capitalismo, mas talvez o pensamento capitalista, consumista, neoliberal e individual.

Um comentário:

João Vitor disse...

Ah, não sei cara, eu sou o mais suspeito pra falar, mas no fundo é uma grande hipocrisia estarmos aqui nos nossos quartos frescos, nossas cadeiras luxuosas e nossos microcomputadores conectados à grande internet, lendo e escrevendo no magnífico "Blogger" da magnífica "Google".
Eu sei que muito da história foi feito inicialmente apenas com palavras, ou ao menos a história que vive dentro de cada um de nós o foi.
Você sabe, eu sou como você, mas eu nunca perco a sanidade totalmente a ponto de nem se passar pela minha cabeça o fato de um mundo não-capitalizado e igualitário talvez não ser tão bom pra você e pra mim o quanto imaginamos.
Pra exemplificar brevemente, e de um jeito que você com certeza entenderá - imagine quantas doses de tequila num "esquenta" pré-festa poderíamos tomar, ou quantos "esquema-gueto" faríamos.
É de se pensar...